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Romilton Batista de Oliveira
Itabuna / BA

 

O reino das palavras:
potência geradora da vida

               

Existia um Reino perto de todos nós muito famoso por tantos povos que habitam a terra. Este Reino era diferente de todos os Reinos existentes no mundo. Era um Reino onde o rei Bem venceu o Mal. A Palavra era a dona absoluta que dava sentido àquele poderoso lugar. A Democracia, a Liberdade e Alteridade eram Palavras muito poderosas neste potente lugar. Eram bastante respeitadas por todas as demais Palavras. Mas neste Reino existiam mais três Palavras muito poderosas que ajudavam Democracia, Liberdade e Alteridade a se fortalecerem, tornando-as imprescindíveis no mundo dominado pelas Palavras. Eram Sabedoria, Amor e Justiça. Sabedoria, Amor e Justiça sempre andavam lado a lado. Eram parceiras em tudo. Porém, neste Reino existiam três Palavras que não coadunavam com as ideias que predominavam neste Reino. Eram Ignorância, Ódio e Impunidade. Ignorância, Ódio e Impunidade sempre estavam às escuras, nos arredores do Reino procurando adentrar nos corações de homens e mulheres, crianças e idosos que não se adaptaram à vida de ordem, paz e progresso que reinavam neste magnífico lugar conhecido pelo nome Reino das Sábias Palavras. Este Reino assim era conhecido porque sempre nele o Bem predominava sobre o Mal, a Justiça sempre vencia a Injustiça. Até que um dia ressurgiu lá não sei de onde, dois seres muito estranhos que queriam adentrar o Reino e fazer parte também dele, vindo de um outro Reino bem distante dali, o reconhecível Desigualdade e a invejosa Indiferença. O lugar que não tinha rei, mas que era regido por normas que foram criadas por um antigo rei de nome Bem que segundo os moradores deste lugar morreu, mas seu corpo nunca foi encontrado. Assim as pessoas deste encantado lugar nunca deixaram de acreditar que o Bem deve sempre vencer o Mal. Segundo a tradição deste lugar ouve um rei muito conhecido por suas atrocidades de nome Mal que governou com derramamento de sangue e muita dor que se estendia por todos os seus súditos, até que veio o Bem e o destruiu para sempre daquele lugar, voltando a reinar a paz que antes da passagem deste horripilante rei, ali reinava. O invisível rei, o Sr. Bem, sempre esteve presente por meio de seus seguidores fiéis que representam 99,9 % por cento dos habitantes daquele santo lugar. 1% ainda vive sob o poder da Ignorância, Injustiça e Inveja, e nunca mudaram de vida, sempre permaneceram no mesmo lugar, alojados e assujeitados ao Ódio e ao Engano. Neste Reino todos vivem nas margens da poesia. A poesia anima a vida de todos, e a Palavra é a potência deste inigualável lugar que se tornou referência no mundo inteiro. Superioridade, Inferioridade, Desigualdade e Indiferença foram expulsas deste lugar, pois onde não há politicagem, não há lugar e espaço para esses desagradáveis e indesejáveis seres responsáveis pela exclusão que tem invadido os outros Reinos. Assim, a palavra, potência geradora da poesia se anuncia, dizendo:
Não estamos sós no mundo...
Somos a todo momento construído por palavras, palavras, palavras...
Palavras de todos as cores, sentidos e encaminhamentos...
Não estamos sós no mundo...
Somos a todo momento sacudido por surpreendentes fatos
Conduzidos por palavras, palavras, palavras...
Não estamos sós no mundo...
Pois a cada manhã nasce um novo sol, a cada noite, uma nova lua
A cada sonho realizado, um novo sonho renascido
Feito de palavras, palavras, palavras, palavras...
Não estamos só no mundo...
Somos acorrentados por uma força que nos movimenta em várias direções,
E evoluímos por meio de cada palavra dita
Que sobrevive junto de tantas outras palavras, palavras, palavras...
Somos saudades, sentimentos, rupturas, tristezas, amarguras, rachaduras, alegrias, descobertas, sonhos, realizações, projetos, vidas centralizadas e mortes rejeitadas, tempos adulterados e espaços amedrontados, mas somos felizes porque temos o que pensar: palavras, palavras, palavras...
Tudo embalado e embrulhado por palavras, palavras, palavras...
Somos o que devemos ser, somos o que podemos ser
Somos e avançamos por meio de novas palavras...
Palavras que nos anunciam por meio de sons, ritmos e fantasias
Palavras que ainda serão descobertas por um porvir
Que se anuncia num turbilhão desenfreado de palavras,
E no meio de tudo isso, apenas as palavras construídas por uma sólida experiência sobreviverá aos novos tempos de multiplicidade de signos vivos...
Evoluímos. Sim. Evoluímos...
Mas tudo só foi possível porque permitimos que a palavra nos tornasse mais humanos
E nos salvasse deste caos pós-moderno que liquida tudo,
Mas jamais conseguirá vencer as palavras que foram produzidas
Por homens e mulheres que buscam dentro de seus limites
A potência geradora que dá vida e sentido ao não-sentido deste mundo:
A palavra viva.

 
 
Conto publicado no livro "Contos Fantásticos - Edição 2016" - Setembro de 2016