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Rodolfo Franzão
São Paulo / SP

 

13 de junho

Não corra! Não pule a cerca!  Sossega menino! Era o que a Marilda, mãe de Luiz, gritava para o menino toda vez que viajavam para o interior de São Paulo. Época de outono em que sua avó Dona Antônia fazia anos.
O mês de junho era o mais comemorado pela família, já que a velha ficara sozinha, depois que seu marido falecera. Todos os netos e filhos iam ao interior e com grande expectativa, esperavam o dia da festa em Bariri, cidade natal de Dona Antônia, para os irmãos Tonica.
Entre os netos Luiz, Luizinho ou Luluzinha como fora carinhosamente apelidado pelos irmãos, sempre empolgadíssimo com as possíveis aventuras que poderiam acontecer no interior. Menino de cidade grande, com treze anos de idade, não tem muita liberdade e acaba se deliciando, quando nasce a chance de ficar livre em um espaço que não apresentava muitos perigos. Quem ficava de cabelos em pé, sempre a mãe de Luiz. Marilda corria atrás do garoto o tempo todo e o fiscalizava de perto, não perdia um centímetro de espaço. Famosa marcação cerrada. Os outros, primos e irmãos, davam pouco trabalho, pois passaram do tempo de imaginar e fantasiar como Luiz. Eles preferiam os jogos eletrônicos e as conversas pelo celular.
Aquele ano seria tudo para o garoto levado. Sua avó havia mandado reformar a casa da árvore e comprara um casal de pôneis para diversão dos meninos. Sua mãe esperava ansiosa para ver a mulher que a colocara no mundo, mas tinha dores de cabeça só em pensar no quanto correria atrás de Luiz nesses dias, que esperavam pela festa de aniversário da Tonica.
O dia da viajem estava chegando. Os parentes pouco a pouco chegariam para ver a mantenedora em seu auge aos 91 anos de idade e firme como uma rocha. Uma mulher que não se entregava ao tempo, morava sozinha e preferia assim, porque sabia que não dava certo com ninguém. Certa vez, tentara morar com uma de suas filhas, brigas e pirraças tomaram conta da casa. Então, a velha decidira ir embora e dali em diante ficou sozinha até os seus 91 anos de idade.
A velha era como o outono, trazia o vigor de um novo momento em cada aniversário, assim pensavam os filhos e os netos maiores. Eles não sabiam que a Dona Antônia já cansada pela idade e com a memória comprometida havia contratado uma mulher para acompanhá-la em seus afazeres do dia a dia. Tonica nunca demonstrou sinal de fraqueza e aos 91 anos também não demonstraria. 
Preparados, foram rumo a Bariri em comitiva filhos, netos e Luiz, que fazia mil narrativas em sua mente, esperando a hora de pisar em solo seguro e puro como é o solo interiorano. A cada placa, pedágio, troca de faixa, o garoto perguntava se estavam perto. Exagero para uma criança que fizera 13 vezes aquele caminho.
Depois de quatro horas de viagem, a comitiva chega ao destino. Sentada na varanda da casa, estava Dona Antônia que não demonstrara nenhuma surpresa. Apenas, levantara a sobrancelha, como que perguntando “Quem é?” para a acompanhante, que ao ver os carros estacionando e as pessoas descendo, apareceu para ver quem eram aquelas pessoas. A falta de sinal da velha deixou as filhas sem entender nada.
Marilda resolveu perguntar a moça quem era e o que fazia ali. A moça explicou a Marilda a situação da patroa. Dona Antônia a contratara para cuidar dela, pois há muito tempo não se sentia boa e sua memória vinha piorando com o tempo. Um choque para os familiares. A mulher, que parecia inabalável, estava ali sem se lembrar de nada ou ninguém. Às vezes, esquecia o próprio nome.
Era o 13 de junho mais triste para aquela família. Embora o aniversário da avó não fosse tão atrativo para os netos mais velhos, eles gostavam da avó e ficaram abalados com a velha ali sentada, estática sem olhar para o lado. 
Luiz, que havia entrado na casa e nem percebera que a vó estava na varanda, saiu da casa e ao ver a vó e as pessoas a sua volta pegou na mão de Dona Antônia e perguntou para a velha onde estavam seus brinquedos. A avó olhou para o lado e num sinal de amor, beijou a testa do neto e disse para o menino que estavam na nova casa da árvore. O menino saiu em disparada e nessa hora Marilda já não corria atrás do garoto.  

   
Publicado no livro "Contos de Outono" - Edição Especial - Junho de 2015