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Henrique Bonamigo
Três de Maio / RS

 

Frio, garoa e magias

No momento em que se preparava para recolher as mercadorias de sua banca para encerrar as atividades do dia, que havia sido péssimo, o vendedor ambulante Isaque viu aproximar-se um homem que passou a examinar os produtos que ali estavam expostos. Isaque tivera um dia negro, não havia vendido quase nada. O frio e a garoa que haviam se intensificado durante a tarde, eram na sua percepção, os vilões daquela má jornada.
     O mau humor estava estampado em sua face, quando respondeu ao cumprimento do homem que educadamente já havia apanhado um lenço, o qual passara a examinar com atenção.
- É de seda, não?
- O fornecedor me garantiu que...
- Entendo, Não tem segurança quanto a procedência, mas me parece ser de boa qualidade. De quantos dispõem?
- Uma dúzia, mais ou menos.
     Embora sem acreditar muito na possibilidade de vender alguma coisa ao homem, Isaque impressionou-se muito com os gestos que ele fazia. A habilidade, com a qual manipulava o lenço, conseguiu até melhorar o humor de Isaque. O lenço de seda deslizava para cima e para baixo entre os dedos do homem, e por instantes parecia evaporar-se no ar.
- Esses leques...
- Tenho uma caixa com dez, mais estes quatro.
     Em seguida, o homem de sobretudo e chapéu de feltro, apanhou uma sombrinha e a fêz girar de forma surpreendente com apenas uma das mãos.
- É uma sombrinha infantil...
- Já percebi, é perfeita para o meu uso, especialmente pelo colorido do tecido.
- Para seu uso?
- Para o meu trabalho, bem entendido. Sou mágico e utilizo uma série de objetos para a execução dos meus números, sou criterioso na escolha deles, pois se usar artefatos de má qualidade, meu desempenho pode ser prejudicado, entende?  E também é uma questão de respeito para com o público que me assiste... procuro dar o melhor de mim, entende?
- Claro...
- Bem... Além da dúzia de lenços, dos leques e da sombrinha, levo também essas oito bolinhas de borracha, essas duas caixas de bolinhas de pingue-pongue, esses cinco jogos de pega varetas, essas velas!.. Não imaginas o quanto procurei por velas iguais a estas!..
- Disponho de três caixas com doze cada...
- Pode ser. Levo também essa caixinha de música...
     O rosto do mágico ficou subitamente muito triste.
- Quebrei acidentalmente a mais bela caixinha de música que existia... Presente da minha querida mãe...
- Quero levar também esse bibelô, é uma bela pombinha! Não é para o trabalho...me faz lembrar a música que mais amo na vida: La paloma.
-Quanto lhe devo?
-Vou fazer um desconto...
-Não! Não! Aqui está o meu telefone, encomendo-lhe mais duas dúzias de lenços e três caixas de velas, comunique-me quando dispuser, pode ser?
- Claro! Sim! Claro!.. Naturalmente!

   
Publicado no livro "Contos de Outono" - Edição Especial - Junho de 2015