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Alexandre Fritzen da Rocha
Porto Alegre / RS

 

Presente momento

 

Perdeu-se o encanto. No encontro do desencontro ela percebeu que nele não mais existia. E na sombra dele deparou-se sombria recordação. Na nova ação do seu antigo amor viu-se poesia desvanecida. E ela sofreu o abandono da paixão. O apagar do sonhado plano. E no seu arrependimento, no seu recente pranto, esmaeceu seu brilho esperançoso.
Apagou-se o sol vivente em seu olhar. Meio distraída desenhou uma ruga no canto do seu olho, que lá ainda permanece. Sofrendo pela lembrança do não ocorrido chorou a perda do futuro daquele passado, que se tornou defunto cremado, emanando as cinzas que se dissiparam à frente de seus aguados olhos.
Mas enfim, de toda história se faz lição, pensou ela em ato conformista de consolação, em uma atitude para recuperar sua antiga alegria e renascer seu sorriso espontâneo e peculiarmente sonoro. E no folhear dos bilhetes de outrora sorriu a lembrança do passado, o amor daquele tempo, que não fugia de suas mãos.
E o passado ela tomou para si. Soube ela que o passado lhe pertencia, ele era dela, somente dela, e isso ninguém poderia tirar. E com esta posse, este souvenir ilusório, ela seguiu durante muito tempo. As recordações alimentaram aquela angústia e foram sua ração de vida por um longo período.
Um tempo depois, findado o sentimento de posse, passada a vontade de ter o outro para si, ela renasceu, acordando de um longo sonho lúgubre. E quando se fez lúcida viu que não havia passado tanto tempo, e que o seu amor possessivo era construção sua. Ela se deu conta, meio embriagada, que tinha realizado no outro uma construção de si, e projetou nele seus anseios, angústias e desejos. Se deu conta que culpava ele pela ausência proporcionada e construída por ela.
E neste instante, ao clangor dos pensamentos embaraçados, ela tornou-se presente, presenteando a si com uma boa dose de presente momento.

 

   
Publicado no livro "Contos de Outono" - Edição Especial - Junho de 2015