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José Antonio Silva Santos
Rio de Janeiro / RJ

 

A última oportunidade

Em meados de 1982, José Augusto incorporou nas Forças Armadas. Foi visitar sua avó, Claudina, para lhe dar as boas novas, eles pouco se viam, embora morassem próximos, num bairro no interior do Rio de Janeiro.
Ao chegar, ele se deparou com a Eliza, uma prima distante que morava com sua avó desde os cinco anos de idade, era muito jovem ainda, mas já chamava a atenção do rapaz. Sua avó dizia que a menina desde bem novinha confessava gostar o primo.Certa vez, num tom ele de brincadeira, ele lhe disse que um dia iria casar com ela, isso ficou gravado no coração a jovem.
Os anos passaram e as vidas de ambos seguiram caminhos diferentes, até que se encontraram e iniciaram o namoro, ela já com vinte anos e ele com vinte e sete. Logo decidiram viver juntos, apressaram as coisas porque o namoro sofria algumas resistências. Ocasal foi morar num bairro chamado Bento Ribeiro, onde viveu a verdadeira essência do amor, ali também foi concebido o primeiro fruto daquele amor tão bonito, e logo depois do nascimento da filha casaram-se formalmente.
Alguns anos depois, inexplicavelmente, José Augusto começou o processo de destruição daquele amor, ele passou a se envolver com outras mulheres e a diminuir a gentileza e carinho com sua esposa. Entre um perdão aqui e outro ali, os anos foram passando e o único lugar que ainda se entendiam era na cama, provavelmente, com menos intensidade. Era tão absurda a maneira que ele lidava com a situação, pois se sentia tão seguro do amor dela, acreditando que ela nunca tomaria uma atitude contra ele; cobrava dela uma maior demonstração de carinho por ele, apesar de o único sentimento que demonstrava a ela, era um ciúme doentio que provavelmente era efeito dos seus próprios erros.
Como já poderia ser esperado, exceto por José Augusto, um dia o seu mundo certamente viria abaixo. Foram tantos dissabores vividos por Eliza que a qualquer momento, ou depois de uma nova decepção, ela desistiria daquele casamento que já não mais lhe trazia felicidade. Ele não atentou para isso e aprontou mais uma vez, desta vez se envolvendo com uma mulher na cidade de Vila Velha, no Espírito Santo.
Deu-se início os trabalhos do diabo e seus assistentes; neste caso, a assistente foi uma mulher agregada à família de José Augusto. Ela o recebeu em sua casa com outros da família, que o havia chamado para um churrasco que eles estavam organizando na casa da dita cuja. Era uma tentativa de alegrá-la devido aos problemas que vinha passando com o marido.
Aquela mulher arquitetou tudo na maldade, ligou para uma amiga e apresentou ao José Augusto, disse-lhe que ele poderia confiar nela e se divertir, mas que não deveria dizer que era casado, caso ela perguntasse era para dizer apenas que tinha alguém no RJ. E o idiota caiu nessa armadilha. Nesse momento, as colunas que sustentavam o mundo dele começavam a ruir, e depois de muitas cervejas e caipirinhas, ele acabou se envolvendo com a tal amiga, e a maligna prontamente tratou de fotografar tudo. Foram apenas três encontros num período de três meses, foram ditas mais coisas do que propriamente vividas, mas tudo foi bem ajustado e articulado para o golpe que ela preparava para desferir no José Augusto.
Arrependido, ele apresentou para tal mulher vários argumentos para colocarem um fim naquele romance, se é que pode se chamar assim, todos foram rejeitados por ela, que inclusive dizia em tom de ameaça, que a amiga estava doida para colocar as fotos no facebook da filha dele, e que era ela quem a estava impedindo. Mesmo se sentindo chantageado, ele resolveu arriscar e por um ponto final naquilo tudo.
Na semana seguinte ao rompimento, a mulher que se dizia apaixonada por ele, se juntou com aquela mulher do mal, que ligou para esposa de José Augusto e contou-lhe tudo detalhadamente, mas com algumas alterações e muito acréscimo. Aquilo foi como uma bomba que explodiu no peito de Eliza, para piorar, cada detalhe foi acompanhado pelos filhos e alguns familiares próximos.
Eliza, apesar de tudo ainda amava o marido, mas olhou para o futuro e não viu felicidade no final, será que ela teria que viver sempre perdoando? E isso valeria a pena? A resposta foi não. Então tomou a decisão, muito triste e amargurada, comunicou ao marido que queria a separação, e essa decisão era de caráter definitivo e irrevogável.
José Augusto sentiu uma dor tão forte no peito que chegou a pensar que estava tendo um ataque cardíaco, sentiu o chão sair dos seus pés, o ar lhe faltar aos pulmões e desabou num choro incontrolável. Seu mundo caiu e não tinha forças para se levantar, estava no fundo do poço, completamente na lama. Caído, sua vida passou a sua frente como num filme, pôde então ver tudo de ruim que causou ao seu casamento, fez as pessoas que mais o amavam sofrerem. Naquele momento teve certeza de que estava perdendo tudo, e por culpa exclusivamente sua. Aquela maligna apenas se aproveitou das brechas que ele mesmo causou. Ele estava pagando pelos seus erros. Estava totalmente arrependido.
Deus na sua infinita misericórdia tocou o coração de Eliza, e mais uma vez ela aceitou ouvir o marido. Naquele momento o Espírito Santo falou através da boca dele, que confessou todos os seus erros e verdadeiramente lhe pediu perdão. Aquelas palavras atingiram diretamente o coração de Eliza, ela acreditou nas suas promessas, que segundo ele, as fazia diante de Deus; prometeu que jamais a faria sofrer novamente, que a partir daquele momento todos seus dias seriam dedicados para cuidar dela e dos filhos, que também lhe seria fiel, companheiro e amante.
Aquilo que foi lançado para o mal, Deus reverteu em bênçãos, caiu por terra aquele mundo de mentiras, de enganações, de traições e de infelicidades. Um novo mundo lhes foi criado a partir da promessa daquele pecador arrependido, nova vida lhe foi dada. "Esta é sua última oportunidade de ser feliz verdadeiramente, seu casamento será restabelecido à medida que for se fazendo merecedor".
E ele tomou posse da última oportunidade.




   
Publicado no livro "Seleção de Contos Premiados" - Edição Especial - Junho de 2014