Helena
Maria S. Matos Ferreira
Guapimirim / RJ
23 de abril
De repente uma música ressoou na cálida
manhã ainda silenciosa e quase sem claridade. A impressão
é que os primeiros raios de sol vão brotando do
chão entre as árvores e jardins das casas interioranas.
E a música também parece brotar dos instrumentos,
aumentando, aproximando-se cada vez mais.
Poucas janelas se abriram. Talvez os moradores estivessem envergonhados
por seus semblantes sonolentos.
Alguém se lembrou de outras alvoradas. Uma quietude invadiu
seu coração. O que antes era motivo de alegria,
de portas abertas e adolescentes enrolados em suas cobertas, com
desejo de agradar o pai que ía à frente daquela
banda, orgulhoso por ser o seu presidente.
Eis que o tempo se esvai e esse agora ex-presidente continua com
sua paixão pelo Grêmio e salta da cama quando escuta
os primeiros fogos anunciadores. Lá vai ele assim mesmo
de samba-canção, descamisado, mesmo ás vezes
a manhã esteja fria. O calor da música esquenta-lhe
o corpo e o coração. Acena para o Maestro, para
os músicos e retorna para a cama, feliz, revivendo seus
momentos de adolescente, de jovem, de adulto ainda sonhador. Mas
dessa vez tudo foi diferente. O sono tomou conta do seu corpo
cansado por uma grande insônia, justamente no momento em
que a sua amada banda passava. Todos permaneceram quietos, menos
seu irmão que levantou-se bem silencioso e seguiu a fanfarra,
recordando-se também dos velhos e saudosos tempos.
Não importa; os anjos evitaram um sentimento de grande
nostalgia que certamente invadiria cada célula daquele
homem um pouco incompreendido por sua postura tão paradoxal.
De qualquer jeito é dia de São Jorge e alguém
tem de matar o dragão que nos assombra a cada dia.
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