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Letícia Alvarez Ucha
Porto Alegre / RS

 

Por um flash

 

Miguel ainda estava no escritório quando deu aquela irresistível clicada na internet. O site de notícias informava que haveria mais outra manifestação contra o aumento da passagem de ônibus e corrupção no país.
Miguel, olhou o relógio e suspirou. Morava próximo à Prefeitura da cidade e sabia que novamente seria difícil chegar à sua casa no meio da multidão.
Tocou o celular. Era seu amigo Zeca.
-- Oi Miguel, você vai à manifestação hoje? – disse em tom entusiasmado.
-- Não posso, amanhã tenho que acordar bem cedo,mas sou a favor do movimento pacífico. Vou ter que desligar. – falou Miguel já arrumando a pasta para sair do trabalho.
Ramalho, seu chefe aproximou-se de sua mesa.
-- Quero esse balanço /relatório pronto ainda hoje. Precisarei dele para uma reunião.- disse em tom ríspido.
-- Mas o expediente já está terminando..- argumentou Miguel quando foi interrompido.
-- Não interessa, faça.- falou Ramalho jogando os papéis na mesa.
Miguel não teve outra escolha a não ser ficar até mais tarde. Quando saiu da empresa, as ruas já estavam com poucos transeuntes e alguns ônibus. O jeito foi ir a pé até sua casa. No meio do caminho encontrou estudantes reunidos para passeata. Alguns estavam segurando faixas e cartazes. Sorriu e seguiu seu caminho. Andou um pouco. Virou para atrás e resolveu tirar uma foto com seu celular daquele momento histórico.
Tocou o celular. Era Zeca novamente.
-- Vem para a passeata, vai ser ótimo. Já estamos em 60 pessoas.
-- Não dá, mas apoio o movimento e minha resposta estará nas urnas, em quem eu votar. Até outra hora. Tchau.– disse Miguel apressando o passo. Os relâmpagos do céu já apontavam que a noite seria de chuva.
A rua principal em direção à Prefeitura já estava lotada de manifestantes. Sem gritos, sem violência somente caminhada e faixas nas mãos.
Miguel resolveu atalhar seu caminho por uma rua pouco movimentada. Foi quando avistou um bando de jovens, atirando pedras na Biblioteca Pública. Estavam aparentemente embriagados. Resolveu esconder-se atrás de uma banca de jornal.
O barulho de vidros quebrados aumentava. Ao lado da Biblioteca havia uma loja de uma multinacional. O bando conseguiu quebrar suas vitrinas e saquearam algumas mercadorias.
Vendo tudo aquilo, Miguel sentiu medo, mas resolveu tirar uma foto de seu celular e publicar o que estava acontecendo no seu perfil numa rede social. Instantes depois , vários amigos on line já comentavam o que estava acontecendo.
Olhou para os lados e decidiu filmar o que estava acontecendo, através da câmara de seu celular. Foi quando sentiu algo tocar o seu ombro. Virou-se rapidamente e viu um albino alto com uma faca na mão.
-- Passa o celular agora. Eu vi que você estava filmando – disse o estranho homem.
Miguel passou o celular e levou um soco. Caiu no chão desacordado. Minutos depois, acordou-se. Estava rodeado de policiais. Ao seu lado, um rapaz ferido estava sendo atendido. Miguel observou que a faca estava na sua mão direita.
-- Não tenho nada a ver com isso! Sou vítima também. Eu postei foto do grupo depredando a Biblioteca. Eles viram que eu estava com o celular e me agrediram. – disse Miguel preocupado em explicar-se.
-- A faca será levada para a perícia. – disse o policial.
Chegou outro brigadiano com a notícia que a poucos metros dali, outra loja havia sido arrombada pelo grupo. Junto ao Caixa da loja, foi encontrada uma carteira de um clube com um celular que o meliante havia deixado cair no momento da fuga. Os policiais foram averiguar. Era a carteira do albino e o celular de Miguel. O vídeo ainda estava no celular e ajudou na identificação do grupo. Uma semana depois, Miguel mandou uma mensagem por celular para seu amigo Zeca.
-- Quero participar com você da próxima manifestação, porque apesar de tudo, acredito em movimentos pacíficos.

   
Publicado no livro "Seleção de Contos Premiados" - Edição Especial - Junho de 2014