Raquel Correa Martins
Santa Maria / RS
O portão
- Sai dessa frente guria, parece uma bandeira de remate, vais
ficar mais amostra que laranja em dia de feira. Marizete embalava
a pequena nos braços, enquanto entrava obedecendo a avó,
mas conseguiu vislumbrar a rua, espichando seu corpo para fora
do portãozinho de madeira.
Tinha só 12 anos e carregava a responsabilidade de uma
adulta. Ajudava a cuidar da sobrinha Batoquinha que branquinha
como era, precisava ficar alguns momentos ao sol e assim Marizete
aproveitava para percorrer seus olhos o máximo que podia
para fora do portão. Em casa fazia tudo que a avó
ordenava, aprendera sobre obediência desde muito cedo. Tinha
hora marcada para chegar e se acontecesse algum atraso ela teria
que pensar em alguma coisa justificável e confiável
para que não levasse uma bronca da avó e da mãe
se essa havia regressado das viagens que fazia ao Uruguai. Marizete
morava na cidade fronteira Uruguaiana onde também vivia
com o irmão Luis, guri compromissado com os estudos e trabalho.
Como toda a adolescente da sua idade, tinha vontade de passear,
conhecer pessoas e vislumbrar o mundo que tão curioso lhe
parecera. Sua caminhada e caminhos freqüentes eram da escola
para casa e de casa para a escola. Os cuidados e zelo da avó
Florisbela eram de carinho, por isso sempre que podia ficava por
horas lendo a bíblia e aconselhando a neta que aguardava
a caricia da avó que lhe fazia tranças torneadas
com fitas coloridas.
Passado muitos anos, hoje, Marizete encontra-se casada com Sergio,
homem que mostra o amor a querida Marizete através de mimos,
palavras e gestos de carinho para com ela. Levando-a até
a praia e viagens, onde seus olhos podem admirar as paisagens
mais belas.
Marizete teve quatro filhos lindos: Marcos, Karine, Larissa e
Thiago. Hoje já casados. Marizete já é avó
de cinco netos: Maria Eduarda, Mateus, Aline, Katherine e Lourenço.
Formou uma família feliz e abençoada.
Muitos anos se passaram e ainda hoje ela acompanha a Batoquinha
para dizer: - A tia te ama, fica com Deus. O portão é
outro e a cidade é bem distante daquela onde embalava a
sobrinha nos braços, mas o carinho e o coração
cheio de cuidados permaneceram e os braços que envolveram
a Batoquinha hoje lhe abraçam cheios de esperança,
para que ela possa também vislumbrar o mundo do portão.
Marizete é exemplo de bondade, obediência e fé
que devemos ter em esperar pelo tempo de Deus em nossa vida. E
a avó é exemplo perfeito da aliança com Deus.
|
|
|
|
|