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Maria Rita de Miranda
São Sebastião do Paraíso / MG

 

O tamanho das palavras

 

Às vezes me pego meditando sobre as palavras. O seu significado, a sua
aplicação, a beleza de algumas, a incondicionalidade de outras, a plenitude com que sentimos algumas, a arrogância com que pronunciamos outras, a eloquência que captamos de umas e a falsidade que soa de outras. Palavra ouvida, dita, pensada, gritada, contida, amargurada, sussurrada, dimensionada.
Às vezes penso também que se as palavras tivessem tamanho - não pelo número de letras - como seriam.
A fé, somente com duas letras tem o tamanho da explosão estelar. Distribui pequenas fagulhas com brilho próprio espalhando luz por onde passa.
A esperança tem o tamanho de uma estrada que pode ser longa, mas que nos leva a algum lugar.
A liberdade se mede com o tamanho do espaço: infinito.
A prisão é tão diminuta que cabe dentro de nós mesmos, incomodando como um alimento que nos faz mal e que queremos colocar para fora.
A confiança tem o tamanho das fases da lua. Tende a ser breve e inconstante, mas se a perdemos podemos reencontrá-la.
A raiva tem a medida do barulho do trovão que nos alerta e assusta quando vem, entretanto passa logo.
O abraço tem o tamanho dos nossos braços. Parece que se esticam quando enlaçados.
A autenticidade tem a medida do mar. Está às margens de nossa vida, mas quando praticada se estende pelo oceano afora.
O desapontamento pode ser comparado com o tempo do clarão de um raio que incomoda, amedronta, alerta, por vezes machuca, mas é curto e breve.
A solidariedade deve ser medida pelo seu próprio tamanho. Grande e soa bem.
O equilíbrio compara-se ao tamanho de uma linha reta e longa. Deve permear a nossa existência.
A simplicidade lembra a medida de nossas passadas. Podem ser curtas, mas são constantes.
A gratidão deve ter o tamanho do horizonte. Mesmo visto de longe sempre nos encanta, pois é aí que o céu reverencia a terra.
A cumplicidade tem a medida de um quarto de dormir. Muitas vezes pequeno, porém aconchegante e necessário.
A meditação me parece do tamanho do pensamento. Não podemos nos escapar dele.
O perdão é ou deve ser tão grande quanto a nossa visão pode alcançar.
A criatividade pode ser do tamanho do contorno de uma praça muito bem arborizada, que rodamos voltas e mais voltas, voltamos ao mesmo lugar e não nos cansamos.
O ódio tem a medida de uma cela de prisão. Maltrata, incomoda, sufoca.
O silêncio tem o tamanho de uma noite mal dormida. Longa, muitas vezes dela não podemos escapar.
O medo mede tanto quanto um pesadelo. Parece não acabar nunca, todavia quando amanhece deixa de ter sentido.
A paciência pode ser comparada à extensão das montanhas. Elevam-se e se abaixam, mas são perenes.
A alegria tem o tamanho de uma risada gostosa. Dura pouco, mas é possível mesmo diante de infortúnios.
A verdade deve medir um metro de elástico flexível. Parece pequeno, mas dobra de tamanho quando manipulado.
A amizade tem o tamanho de um novelo de linha. Não sabemos exatamente sua medida, contudo quando o desenrolamos pode enlaçar pontos e mais pontos.
A consequência é do tamanho de nossa vida. A cada dia está presente de acordo com nossos atos.
A dor deve ter a medida de um sopro. Vem forte, mas passa.
Penso que não há medida para o amor. Ultrapassa nosso alcance de visão, abrange o tamanho de todas as palavras juntas. Se for para medi-lo, compare-o ao tamanho de nossa aura.
Já a paz, três letrinhas apenas, é grande como a circunferência do planeta. Só com ela tudo persiste.

 

 
 
Conto publicado no livro "Contos Selecionados de Grandes Autores Brasileiros" - Maio de 2016