Rafael
Ferreira da Silva
São Paulo / SP
O taxista Tião e a senhora
Alzira
Na esquina do quarteirão de um grande supermercado
de bairro da classe média de São Paulo existe um
ponto de táxi no qual trabalham aproximadamente 20 motoristas
de praça.
Entre os motoristas do ponto, Tião se destaca pela simplicidade
e simpatia que trata colegas, clientes ou qualquer pessoa que
com que ele interaja.
Semanalmente, Alzira, uma senhora de aproximadamente 80 anos,
faz compras no supermercado e solicita um táxi do ponto
para levá-la em casa.
Para a maioria dos taxistas, atender uma corrida da Alzira era
sinônimo de prejuízo e perda de tempo. Afinal, além
da residência de Alzira ser muito próxima do supermercado,
ainda havia o “transtorno” de ajudá-la a levar
as compras até o apartamento.
Assim, bastava a Alzira sair do supermercado com as suas sacolas
que misteriosamente desapareciam todos os táxis do ponto.
Apenas Tião permanecia e atendia Alzira com paciência
e boa vontade. Muitas vezes uma corrida de R$ 10,00 demorava mais
de 40 minutos porque Tião fazia questão de levar
as compras até o apartamento e, dependendo do caso, auxiliava
Alzira com pequenas tarefas, como trocar lâmpadas ou carregar
um objeto mais pesado.
Notando que somente Tião a atendia, Alzira passou a procurá-lo
exclusivamente, programando dia e horário da corrida.
Tião era visto pelos colegas como o otário. Os que
se achavam mais espertos faziam questão de debochar do
motorista de boa vontade.
Teve um dia que um dos colegas de Tião fez questão
de dizer para ele:
- Hoje, enquanto você estava com a velha, peguei uma corrida
com um gringo e ganhei R$ 300,00!
Feliz pela sorte do colega, Tião respondeu:
- Que ótimo! O ganho de um dia bom em uma hora.
Vendo que Tião não se incomodou com o comentário
e ainda o felicitou, o “sábio” colega entendeu
por bem dar uma dica ao interlocutor:
- Deixa de ser trouxa Tião! Não está vendo
que a velha está abusando de você? Podia ganhar muito
mais se não ficasse perdendo tempo com gente como ela.
Sem se abalar, mas querendo por um fim no assunto, Tião
declarou:
- Estamos aqui para atender quem nos procurar. Aguardo a minha
vez e respeito a fila, sem prejudicar ninguém. A corrida
que tiver que ser minha será. Não importa o valor.
Nossa função é atender bem o cliente, levando-o
em segurança para o destino solicitado.
Depois desse dia o assunto não foi mais abertamente discutido,
mas bastava Tião sair para atender a senhora Alzira que
os comentários voltavam.
Meses depois o telefone de Tião tocou:
- Boa tarde! Gostaria de falar com o Tião:
Tião respondeu:
- É ele quem está falando.
O homem do outro lado da linha prosseguiu:
- Tião, meu nome é Antônio. Você não
me conhece. Sou filho da senhora Alzira, sua cliente do supermercado.
Com o seu jeito amistoso, Tião indagou:
- Pois não seu Antônio. Tudo bem com a sua mãe?
Como posso ajudá-lo?
Antônio respondeu:
- Minha mãe está ótima. Aliás, muito
obrigado pela paciência que tem com ela. Mas falando de
negócios, sou diretor de um banco e precisamos de um taxista
de confiança. Durante os próximos dois anos teremos
corridas constantes para outros municípios. Gostaríamos
de contratar os seus serviços nesse período.
O negócio foi fechado. Com a remuneração
decorrente do contrato, Tião pagou as dívidas e
trocou de carro.
Graças ao seu carisma e disposição para ajudar,
na época que prestou serviços ao banco Tião
conquistou novos clientes.
A demanda de trabalho passou a ser tão intensa que raramente
Tião aparece no ponto. Nas poucas vezes que isso acontece
é para atender a senhora Alzira.
Ainda hoje, quando os colegas veem Tião com a senhora Alzira,
eles costumam comentar:
- Esse daí não aprende mesmo! Ingênuo desse
jeito nunca vai melhorar de vida.
|
|
|
|
|