Maria
Rita de Miranda
São Sebastião do Paraíso /
MG
Minha receita, minha história
-Uma de vocês, vá á casa do Zé Baiano
e compre uma dúzia de bananas nanicas para o virado.
Parece que ainda escuto a voz de mamãe dizendo estas palavras
para qualquer um de nós que estamos na copa do velho casarão.
Os mais velhos ocupados com estudos ou tarefas escolares, enquanto
os mais novos fazem algazarra. Uma de nós se levanta correndo
e logo volta com as bananas, pois a casa do referido senhor ficava
bem próxima a nossa.
Logo sentimos o cheirinho adocicado tomar conta da cozinha e vagarosamente
da casa toda.
-Já está pronto, diz mamãe.
Vamos todos para a cozinha onde o virado já está
colocado em pratinhos sem talher. Cada um pega o seu querendo
sempre o que tem mais. Sentamo-nos nas cadeiras, na soleira da
porta, no rabo do fogão e nos deliciamos com este lanche
especial, amassando os punhados de bananas com farinha com as
pontas dos dedos e levando à boca. Comemos depressa, pois
talvez tenha um repeteco para o mais esperto. Quando terminamos
voltamos para a copa e continuamos os afazeres.
-Quando vai ter de novo o virado?
-Que guloso você é. Acaba de comer e já quer
mais menino? Dizia mamãe sorrindo e sabendo que, na verdade,
todos nós queríamos repetir logo este lanche.
Até hoje preparo este prato para minhas filhas que apreciam
muito. Conto para elas como era em minha casa. Elas acham graça
quando falo que comíamos com os dedos no lugar dos talheres.
Tenho também amigas daquela época que desfrutaram
deste gostinho. Quando nos reencontramos e falamos sobre fatos
passados elas dizem sentir saudades do virado de bananas feito
no fogão a lenha.
Agora, ao escrever pela primeira vez sobre estas recordações,
escuto o frigir da gordura quente em contato com as bananas frias,
sinto o cheiro adocicado da fumaça tomar conta do meu olfato,
minha boca saliva sentindo o gostinho das bananas macias envoltas
no açúcar e farinha de milho levadas à boca
aos punhadinhos nas pontas dos dedos.
Ai, que saudade que dá!
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