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Carlos Eduardo de Carvalho Vargas
Curitiba / PR

 

O segredo de Zezinho



Zezinho mal podia esperar para visitar o vovô Chico naquelas férias de verão. Apesar de morar na cidade, o piá gostava mesmo era do interior. Ao chegar no sítio do Lontrão, o menino pulava de alegria, cumprimentando a todos, mas sem disfarçar a saudade que sentia de seu avô. E o sentimento era recíproco: enquanto o neto não chegava, o idoso não tinha sossego. Ficava na porta de casa, esperando com ansiedade o barulho do motor do carro que traria o motivo de sua alegria.
Na companhia do vovô, Zezinho queria matar a saudade de todos os brinquedos e de todas as suas brincadeiras. Era um sentimento muito vivo naquele coraçãozinho. E tinha mais! O nosso pequeno herói também sentia saudade dos animais. Ele queria rever cada um deles: cachorros, gatos, galinhas, porcos, cavalos e passarinhos. O avô não podia esquecer de nenhum! No final, seu Chico já estava cansando, mas o rapazinho não queria se entregar:
— Vovô, tem algo estranho...
— Como assim, Zezinho?
— Aquela galinha! Ela não é daqui...
— Mas ela é do nosso galinheiro!
— Será que é mesmo, vovozinho? Acho que não... Vou examinar melhor!
— Bem, ela pode ter fugido do vizinho, quem sabe? – seu Chico observou sem dar muita atenção.
O menino era determinado quando queria descobrir algo e, deixando o vovô de lado, foi caminhando bem devagar na direção da galinha, que se afastava cocoricando. Zezinho falava sozinho:
— Essa galinha é estranha, não pode ser daqui...
E, de repente, ele escutou uma voz estridente e indignada:
— O que você disse, menino?
Zezinho olhou ao redor e ficou branco de medo, pois não reconheceu aquela voz. Nas proximidades, somente havia o seu avô e aquela galinha. Quem poderia falar assim? Afinal, ele sempre aprendeu que as galinhas não falam. Ele respirou fundo, mas a voz insistia:
— Repita, se tiver coragem!
— O que é isso? Galinhas não falam!
— Tome tento, menino! Quem você acha que é?
— Eu falo porque sou um ser humano, mas como você consegue falar, se é apenas uma galinha?
— Bem-vindo ao mundo real! Os humanos se iludem, mas não sabem que nós também falamos. Não sou apenas uma galinha, sou falante, mas não conte aos adultos!
O menino estava maravilhado com aquela descoberta, enquanto o vovô estranhava que o menino estivesse conversando tanto:
— Você está falando comigo, Zezinho? Não estou conseguindo escutar direito o que você está dizendo...
Na sua inocência infantil, o menino disse:
— Você não está ouvindo as galinhas, vovô?
— Para variar, estão cocoricando sem parar! – E seu Chico continuou cortando lenha com seu machado. Enquanto isso, a galinha chamou atenção do menino:
— Você quase estragou tudo, imagine se ele descobre...
— Descobre o quê?
— Entenda bem: os adultos não podem descobrir que nós falamos, pois iriam nos levar para o circo ou para a televisão. Nós queremos viver em paz aqui no sítio.
— Está bem... – disse o menino, envergonhado.
— Não precisa ficar chateado, mas prometa que irá manter segredo.
— Está prometido!
O vovô estava preocupado com os ovos que eles precisavam levar para casa:
— Cadê os ovos? Você não ia levar para a vovó?
— É mesmo! Onde poderei encontrar algum ovo?
A galinha falante já se manifestou rapidamente:
— Fico muito chateada quando os humanos pegam todos os meus ovos.
— E agora? Se eu não levar nada, a vovó vai ficar brava comigo.
— Como você é meu único amigo humano, eu vou lhe ajudar. Deixo dois ovos para você não passar apuro. Eles estão ali, no meu ninho. Fique à vontade!
— Muito obrigado! – o menino saiu pulando de felicidade, enquanto pegava os dois ovinhos prometidos e levava ao avô.
— Que demora, meu neto! O que aconteceu?
— Demorei para achar, mas consegui os ovos – o menino respondeu. Na sequência, ele colocou o dedo apontador sobre os lábios, fazendo sinal de segredo e dando uma piscadinha para a galinha. E Zezinho seguia de consciência tranqüila, contente consigo mesmo. Daquela vez, o seu segredo estava garantido!



   
Conto publicado no livro "Contos de Verão" - Edição Especial - Abril de 2014