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Rita Hipólita Giordano Amaro
São Paulo / SP

 

Ardores de verão




-O sol em pleno pico,ardendo no solo e nos corpos em ondas de calores que abalam os humores e abrasam os temperamentos,transforma os pacatos e os afoitos .
-Verdade, mas parece que você anda se expondo muito e deve ter queimado ou acionado algum elemento novo em seu cérebro. Agora deu para raciocinar...Viva o sol quente !
Vocês jovens desnudam os corpos com as poucas roupas que os recobrem, que geralmente os deixa mais relaxados, e me vem ai, com pensamentos, e frases completas. Vou rezar para não acabar o calor que o motiva.
-E vocês idosos, se consomem nas irregularidades de pressão arterial e ficam se abanando como se qualquer esforço os consumissem. Mas a verdade, o meio ambiente se ressente, falta água em muitos lugares e tem apagão de enegia, não é assim?
-Pensando bem,o verão tão aguardado o ano todo, quando chega, traz transtornos .Quem disse que calor traz leveza,errou na formulação do pensamento incompleto. O que ele exige,é que se desfaçam dos excessos. Beber aumenta a necessidade de ingerir água; quem gosta de malhar,nem pensar ...
-Para mim, o pior de tudo é esse tal de horário de verão; gostam de fazer piadas com a gente, não é mesmo? Eles lá não sabem que acordar com os passarinhos, de madrugada, faz gastar energia mais cedo. Com mais tempo para aproveitar o dia, fica o povo ligando o ar condicionado, os ventiladores... jogando conversa fora nos fins de tarde (que é pleno dia ensolarado), consumindo cerveja, refrifgerante...Todo mundo vai deitar mais tarde, que ninguém é de ferro para aturar cama com sol alto e aguentar o jantar mais cedo;os televisores avançam pela madrugada. Só sei que se gasta lá em casa muita luz, nessa estação iluminada! Já fiz um versinho, meu hino ao sol: Calor escaldante/ emoções transbordantes/ corpos ardendo/ sob sol abrasante.
-Certo.Você está mesmo inspirado.Já sei o que lhe faz bem. Prefiro temperaturas mais amenas, mas não gosto do que vejo no inverno, quando há muita gente ao relento e aumentam suas necessidades, a fome é mais sentida e as doenças proliferam.
Se pensarmos, o mais certo é entender que desvalido e sofredor de rua, é abalado em todas as circunstancias. Se faz calo, frio, se chove ou não. Está mais que na hora de criarmos estruturas que acolham e resolvam situações de abandono de pessoas .
-É mesmo tia, tem sociedade protetora do meio ambiente, de tanta coisa...e não se tem estrutura para a proteção de gente que sofre abandono, a injustiça da fome, desemprego, não atendimento médico... Onde estão os que têm que nos proteger? Corremos risco de sermos relegados ao desamparo também ,nessa maneira hipócrita de fingir que não se vê o necessitado.
-Então aproveita esse calor de indignação, que o faz pensar e ver, que toca seu coração e seu raciocínio, para melhor pensar que cada um tem algo a contribuir, e pode escolher bem quem vai representá-lo, a partir de agora, que merece ser eleito.
Pensando bem, eu pensava que não ia aguentar essa fornalha de verão, mas também acho que está fazendo bons efeitos. O melhor deles é esse calor humano, esse desvestir dos trapos guardados que nos recobrem, e esse desejo imenso de banhar-nos em águas refrescantes de branduras e solidariedade que nos faz enxergar os que realmente padecem. Estou amando esse calor intenso!

 

   
Conto publicado no livro "Contos de Verão" - Edição Especial - Abril de 2014