Fernando Jorge de Araujo Aguiar
Recife / PE

Varzeanidade

Fui fecundado em teu seio
e no teu seio nasci.
Cresci lento como quem
não quer crescer,
passando lento como quem
Não quer passar.
Trazendo no corpo
o cheiro do teu arvoredo,
respirando teu ar
como quem nunca quer parar.
Teu mistério transladou- se
para meu mistério,
todo o meu ser comportou-se
em tua calma.
No meu corpo, viram
sintomas de tuas dores.
Nas sombras dos teus velhos
fícus, confesso, jurei propósitos
secretos de várzeanidade.
Quando teu corpo ainda  menina
e teus filhos não eram tantos,
mais só os que comigo nasceram.
De braços e abraçados
pelo Capibaribe,
rio moreno  de gosto
doce e cheiroso,
vivíamos ao vento
de tuas paisagens,
sem hora e sem tempo,
e sem querer pressagiar
momentos, de mudanças
que começava a chegar.