Teresa Cristina Cerqueira de Sousa
Piracuruca / PI
O menino com voz
Numa vasta manhã, ouviu-se o canto dos galos, como um brinquedo
quase em silêncio.
Voavam alguns pássaros no céu dentro de um vento,
que passava em movimento nas árvores descendo manso num
morro.
E os raios do sol carregando os homens de asas abertas dentro
da caatinga.
Dia que chega com um hálito vexado no coração.
Então, ouviram-se passos pequenos e um suspiro sem voz,
feito sombra, bordando levemente os pensamentos do velho Júlio.
Era o menino da vizinha!
Não tinha ainda nove anos, mas há meninos que não
sabem calar. E, procurando olhar firme para Seu Júlio,
suspirou débil:
_O Senhor vai mesmo cortar a árvore perto do riacho?
O homem experimentou o calor da manhã e andou um pouco
mais no caminho. Parou uns passos adiante. E voltou-se para o
menino:
_ Bruno, eu não sou um matador de árvores ou animais.
Você não entende que a velha árvore está
quase caída por sobre o rio? E isso é culpa sua
e desses meninos que vivem subindo nela para pular dentro da água.
O menino respondeu prontamente:
_ Eu sei, Seu Júlio! Mas é que nasceu um passarinho
na árvore.
Os homens e os meninos. O menino ficou quieto, aguardando a reação
do homem, Seu Júlio desmoronou em lembranças infantis,
que levantou os olhos cheios de lágrimas para o céu.
_Você tem certeza, Bruno? O que você quer que eu faça?
_ Eu e os meninos vamos deixar de subir na árvore. Deixe-a
ficar lá. Deixe que caia, pois sei que vai dar tempo de
o passarinho crescer e aprender a voar.
E caminharam calados. O homem em conjecturas e o menino em esperanças.
O vento juntou-se por cima do chapéu de Seu Júlio
– “Ei, o chapéu é meu!” –
e, enfim, quebrou-se o silêncio.
_ Ah, que você quando quer uma coisa sabe ser insistente;
hem, Bruno? Está bem, está bem, eu vou confiar em
vocês.
_ O Senhor não vai se arrepender, Seu Júlio!
Disse essas palavras e saiu correndo subindo o morro, porque menino
tem uma respiração que se levanta como se os pés
voassem.
Isso foi certa manhã, e eu apenas olhava dentro de minhas
lembranças: tão longe, tão longe... num tempo,
que perdura, no retrato que guardo dentro de mim de meu tio Júlio.
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