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Márcia Ayres Dugo
São Bernardo do Campo / SP

 

Família - O tempo e a vida


- Quanto tempo leva um passeio de uma vida?
- O mesmo tempo pra um bolo ficar pronto.
- Bolo do quê?
- Qual você prefere?
- O que importa? Cada bolo leva um tempo e também depende se irei utilizar fogão, micro-ondas...
- O teu está com que sabor e onde pretende prepará-lo?
- O meu?
- Começo a visualizar uma mistura de ingredientes, faltam-me outros tantos...
Posso te contar o que já tenho, pra ver se você consegue me ajudar?
- Claro...
Quando cheguei não houve muita pompa, mas de qualquer jeito eu resolvi que viria,
E quando meus olhos avistaram este mundo...
Sobressalto!
Como que subitamente tirada de um sono...
Um ser estremunhado!
É, cheguei e não dava pra voltar atrás, então vamos lá.
(Sabe o que te espera?)
Desde o mágico instante já antecipava uma consciência vinda de um longínquo mundo interno...
Ou seria externo e coletivo?
Com todas as dificuldades e apuros,
No mais recôndito de cada um, que por ali se encontrava, havia amor... Incondicional!
Palavra nenhuma expressaria o todo e tanto amor que unia essa família,
Que vim coabitar.
A duras penas, envoltos e movidos por uma sutil força,
Após minha chegada, chegou ainda o sexto guerreiro,
E também o primeiro a retornar ao início de onde todos vieram. E pra onde retornaremos...
A família completa iniciou sua trajetória difícil, mas não mais e nem menos que outras... Parecida talvez... Diferente com certeza, como cada digital. Uma família contém traços únicos que a diferenciam de qualquer outra
E pra essa não teve nada muito fácil, exceto a leveza, sensibilidade e amor que do invisível de cada um emanava, tornando toda aquela convivência possível e suportável.
Incessantes choros, gritos e noites mal dormidas na memória...
Ainda assim prosseguiam evoluindo a olhos vistos e cada qual como lhe era possível, mas todos caminhando feito uma plantinha que busca a claridade, o sol.
À medida que cresciam em altura e conhecimento,
Também em sabedoria, pra com tudo lidar de forma construtiva e em pé...
Apoiavam-se pelo olhar, pois demonstrações afetuosas lhes eram desconhecidas...
Ainda assim sabiam se amar.
Crescidos... Seus olhares mantinham o medo, a tristeza de tempos idos e embora, por vezes festejassem o que quer que seja, lá o registro da caminhada...
Olhares singelos, doces, mas com uma marca profunda de tristeza, que os acompanhariam até sabe-se lá Deus quando...
Lá também o registro do grande amor que norteou e os manteve no caminho...
Um forte senso de direção para a Luz, para o bem.
Sabe meu Deus, eu queria agradecer a família que me deste a compartilhar.
Foram muitos desafios desde o útero de minha mãe, ou talvez ainda bem antes disso, mas a recordação de cada momento vivido com todos, me sensibiliza tanto, que sinto não só vontade de chorar, mas de colocar cada um em meu colo e acarinhar como se fossem o meu filho, dizendo em cada gesto de carinho que de alguma forma nós conseguimos, porque hoje é tão fácil olhar cada olhar, mesmo os que já se foram e dizer “eu te amo”... Hoje é tão mais fácil entender àquelas lições tão difíceis em tempos idos... Hoje ao lembrar o olhar de qualquer um dos meus irmãos, do meu pai e minha mãe eu choro sim, por um profundo amor que por todos eu sinto e uma saudade danada ao lembrar a “ninhada” toda deitada ao lado da mãe na cama dela e ela cantando: “... Era uma casa muito engraçada...”.
E os sorteios pra ver quem iria passear com a mãe (acreditem, ela só ia pagar as contas ou fazer compras no mercado), mas era dia de andar de ônibus e pastel...
Aos domingos tínhamos o copo mais delicioso de refrigerante...
Coisas tão simples, lindas e deliciosas... Com jeito e cheiro de amor, um amor que só voltamos a sentir quando brincamos com um filho no chão de qualquer lugar.
- Sinto que o que acumulei até aqui foi isto, agora me ajude, o que falta pra completar os ingredientes e ir pra próxima fase?
- Hoje, após muita dor, alegria, amor e muitas vitórias, a vida vem acarinhar e pedir descansar... Saborear o plantio e continuar semeando por aqui.
Vem acalentar as esperanças como que dizendo:
- Descansem um pouco...
- O amor em vocês, de vocês e entre vocês VENCEU!
- Essa era a tarefa, o restante foi e será apenas o material utilizado para burilar o amor em cada um.
O sabor do teu bolo? O AMOR...
De que jeito está preparando? Vivendo... Sofrendo, doendo, errando, acertando, amando... Como qualquer um por aqui.
- Está sacramentado!
Bom retorno.
Filhos destes filhos vieram e mais virão, anunciando a Esperança que Deus ainda deposita nos seres humanos...
E a cada geração mais livre do peso de outrora, pois que amparados estarão por seres sempre mais próximos da Luz.


   
Publicado no "Livro de Ouro do Conto Brasileiro Contemporâneo" - Edição Especial - Agosto de 2014