Marcos Filho
Macaé / RJ
Comprovando a monografia
Na faculdade Clara Mercedes estás prestes a terminar o
seu curso de Jornalismo. No oitavo período tem a missão
de fazer a terceira e última monografia para se formar.
Com um tema polêmico “Invisibilidade Pública”,
não conseguistes convencer a comissão julgadora
que ainda há uma presença muito forte do preconceito
social e racial na sociedade atual.
Com a sorte de ter passado do segundo para o terceiro, tens a
oportunidade e responsabilidade de levar fontes que comprovem
o tema referido. Uma vez que quando entregou o segundo, eles questionaram:
- Estamos em um século tecnológico, com uma população
que cresce a cada dia seja socialmente ou economicamente. Você
acha que ainda vão existir esses preconceitos em virtude
da ausência da educação? Estamos em um momento
que o mundo está ficando cada vez mais civilizado e o seu
foco voltado para os interesses empresariais. Acho que esses comportamentos
já devem estar entrando em extinção. Discursou
um dos avaliadores.
Ressabiada com a interpretação que fizeste, não
questionou, apenas absorveu o que era de sua instância.
Para ela, essa conduta dos professores tenha sido veraz ou uma
grande pegadinha para observarem o seu desempenho e modo de agir.
Por ter na veia o jornalismo investigativo, busca meios para obter
exemplos reais a fim de conseguir fechar com chave de ouro a última
etapa do seu trabalho e comprovar o que vem assegurando.
Pesquisa livros, sites e nada de conseguir o que anseia. Para
espairecer a cabeça de tanto ler pilhas e pilhas de textos,
resolve aceitar o convite da mãe para passear pela movimentada
Avenida Mustache. Sempre atenciosa e dedicada, tenta interpretar
tudo que vê correlacionando com a sua dissertação.
Passa de uma loja para outra, compra roupa, conhece pessoas, toma
sorvete e assim foi o dia.
Passeando em uma parte da extensa avenida, depara-se com um lixeiro
que logo lhe chama a atenção:
- Mãe, é isso! Lembra-se desse lixeiro que agente
tanto conversou?
- Lembra o quê, minha filha? Está louca é?
- Disse com humor.
- Que eu achava um absurdo, ou melhor, ainda acho por ninguém
passar por ele e cumprimentá-lo. Encontrei o meu grande
exemplo para a minha tese. Declarou aliviada do que não
havia conseguido em suas pesquisas literárias.
Com a sua pasta inseparável e cheia de recursos, começa
desde então fazer a matéria com o lixeiro Sião
Curvelo. Cada minuto registrava atos inadmissíveis e inacreditáveis.
A cada piscada era um motivo para anotar uma nova informação,
além de registrar disfarçadamente com a sua câmera
fotográfica.
Em casa, feliz depois de uma longa jornada e por ter conseguido
alcançar o que ambicionava, começa a organizar e
formatar a sua última dissertação e chance
para comprovar o que tem ficado como tema de discursão
em sua Faculdade.
- Pois bem, a Visibilidade Pública está presente
praticamente em todo lugar. De início eu estava confusa
em obter um exemplo excepcional. Embora seja fácil de ser
percebida em qualquer lugar, desde a senhora que faz o cafezinho
de uma organização até aos grandes empresários.
Hoje as pessoas estão mais preocupadas em enxergar somente
a função do que a pessoa em si. Ou seja, o seu reconhecimento
ficando cada vez mais imperceptível.
O “oi”, “ boa tarde”, “como vai?”
e outros cumprimentos, viraram obrigações e deixaram
de ser algo espontâneo, natural. Crescemos sabendo que o
valor não só está em uma boa formação,
mas também na grande importância da educação
em nossas vidas. Com certeza, esses comportamentos podem estar
ligados à desigualdade social, condutas que ocorrem no
mundo inteiro.
Esses e outros motivos fizeram com que as instituições
adotassem como disciplina obrigatória e indispensável
dentro de uma sala de aula, a filosofia e a sociologia. Buscando
trabalhar o pensamento do aluno para as suas futuras decisões
e comportamentos perante a sociedade.
Na imagem, procurei agregar várias fotos aos quais descrevem
o ser insignificante diante das outras pessoas. Igual ao gari
Sião Curvelo que há algum tempo eu observo na Avenida
Mustache, onde muitos passam por ele como se fosse mais um objeto
colocado pela prefeitura e não um ser humano que precisa
de carinho, apoio e consideração. Esses fatos vão
desde os garis em uma praça pública, os artistas
de rua, até aos advogados, engenheiros, médicos
e outros. Podemos perceber que esses tratamentos estão
presentes em qualquer lugar, em qualquer profissão e seja
lá qual for a sua função. Um dos exemplos
fortes que podemos atrelar ao que estamos debatendo é quando
estamos em algum ônibus, na fila de um banco, supermercado
e outros lugares. Locais que na maioria das vezes as pessoas de
idade não são valorizadas como preferência
no atendimento.
Esses desrespeitos também estão conectados ao trânsito.
Onde uma placa informa o que o condutor deve fazer e ele simplesmente
a ignora. A pobreza é um dos casos que com certeza é
extremamente imperceptível. Enfim, podemos observar que
não só estão ligados ao trabalho, mas ao
nosso cotidiano. Os exemplos são muitos e esses fatos a
cada dia tendem a aumentar. Discursou Clara Mercedes em sua monografia.
Abismados com a matéria que acompanhavam no telão
precedido das explicações e exemplos mencionados
por ela, ficaram sem palavras para descrever a capacidade que
a jovem jornalista teve ao comprovar ao que vinha insistindo.
A comissão julgadora e mais os que estavam assistindo o
seminário, levantaram-se de suas cadeiras com brilhos nos
olhos e bateram palmas.
A matéria da Clara Mercedes foi destaque nos principais
jornais da cidade e do mundo. Uma monografia que não teve
erros e muito menos alguma dúvida. Uma formidável
tese.
Os pais muito orgulhosos da filha continham o choro para entregar
junto com os diretores da Faculdade o diploma e anel de formatura.
Um exemplo de dedicação e superação
que deve ser seguido.
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