Primeira vez neste site? Então
[clique aqui]
para conhecer um pouco da CBJE
Antologias: atendimento@camarabrasileira.com
Produção de livros: cbje@globo.com
Contato por telefone
Antologias:
(21) 3393 2163
Produção de livros:
(21) 3547 2163
(21) 3186 7547

José Antonio Silva Santos
Macaé / RJ

 

A saga de um vampiro - 1


Em 1736, aportava no Rio de Janeiro um navio a vapor vindo de Londres, entre outros, desembarcou uma família de comerciantes, o Sr. Adams Ferdynan White, que descendia da nobreza inglesa, com sua esposa a Sra Chalise Eliot Bourn, uma Norte-Irlandesa, acompanhados do filho Victor Bourn White, de apenas um ano de idade.
O casal se conheceu num período em que Adams passava férias na fazendo de familiares em Norfolk. Uma ruiva linda chamou a atenção do rapaz, foi amor à primeira vista. Chalise era uma refugiada da guerra, e fora trazida para fazenda com apenas cinco anos de idade, onde era tratada como se fosse da família. O rapaz passou a ser presença constante no local, a família via apenas como um divertimento de jovens.
Na ocasião, o pai de Adams recebeu o Título de Conde Ferdynan III, juntamente com o compromisso de dar continuidade à união da Inglaterra com a Dinamarca. O Conde teria que casar seu filho com a filha de um Conde Dinamarquês. Ao tomar ciência do rumo que sua vida teria que seguir, Adams foi procurar sua amada sem saber bem como lhe dizer tudo aquilo, antes mesmo de abrir a boca, foi recebido com um longo e apaixonado beijo, a seguir, recebeu a noticia que mudaria completamente sua vida, a da gravidez de Chalise, isso o fez esquecer-se do verdadeiro motivo que o levou a fazenda aquele dia.
Adams com e a linda Mary Elizabeth Frouchen se conheceram num jantar oferecido pela família da noiva na Dinamarca, ela também não demonstrava muita felicidade com o casamento. Ao voltar para casa, o rapaz resolveu fazer alguma coisa para mudar o destino que preparavam para ele, então comunicou aos pais a gravidez de Chalise, foi um alvoroço no início, mas depois ficou decidido que ele se casaria com Mary Elizabeth e manteria o romance com a outra longe dos ouvidos e olhos da esposa.
Chegou o dia do casamento, foi uma festa muito pomposa para a nobreza Inglesa e Dinamarquesa, o qual contou com a presença de várias autoridades do mundo inteiro. Após a cerimônia Adams simulou um mal estar para evitar a intimidade com a esposa, isso se repetiu por varias noites, até que a família dela resolveu intervir por estarem preocupados com a não consumação do casamento. Pressionado, ele teve a ideia de aproveitar a escuridão do quarto para colocar um fiel empregado em seu lugar. No dia seguinte, Mary Elizabete esbanjava sorrisos, pois julgava ter passado uma romântica e ardente noite de amor com o marido, o que foi repetido por muitas e muitas noites. Logo foi anunciada a gravidez da feliz mulher, justamente na mesma semana em que nascia o filho de Adams e Chalise.
Adams planejava fugir com sua amada, ouviu falar do Brasil através de um marinheiro que acompanhava a Família Real Portuguesa, um país desconhecido e muito promissor, começou então a transferir suas riquezas para o Rio de Janeiro. Sem aviso prévio, Adams e Chalise e o pequeno Victor desapareceram da Inglaterra.
O verdadeiro pai do filho que Mary Elizabeth esperava, resolveu confessar toda trama, o que lhe custou à perda da própria vida. O Conde Dinamarquês exigiu que Adams fosse caçado e decapitado, assim como, a mulher que havia provocado tudo aquilo. O filho de Mary Elizabeth nasceu e lhe foi tirado sem ao menos ver o rosto da criança. Os Frouchen descendiam de poderosos bruxos que foram banidos da Inglaterra na idade média, devido suas ações violentas, nem Mary Elizabeth tinha conhecimento disse lado negro da família, certamente eles buscariam vingança.
No Rio de Janeiro, Adams seguia numa vida próspera com sua família, eles tiveram mais duas filhas, Victor com seis anos de idade falava bem a língua portuguesa, mas também a inglesa e a irlandesa. O pesadelo começou após Victor completar sete anos de vida, ele acordava sempre aos gritos, dizendo “eles estão chegando”, ele crescia atormentado sem conseguir dormir direito, o que lhe garantiram olheiras enormes, sua pele também era pálida. Na noite em que completou quinze anos, o rapaz estava recluso numa fazenda no interior do Rio, estranhamente saiu noite adentro sem rumo, voltou ao amanhecer ser saber por onde havia andado, nem o que tinha feito, seu corpo estava todo arranhado e sujo de sangue, o cheiro era insuportável, ele não fazia a menor ideia do que tinha lhe acontecido, então voltou para junto da família. Ele permanecia quase que o dia todo num quarto com pouca luz, algumas vezes sua mãe foi vê-lo na madrugada e não o encontrou.
Numa noite chuvosa e escura alguém bateu a porta dos White, era um homem na companhia de três mulheres, foram atendidos pelo próprio Sr. White, os quatro disseram como num coro, “finalmente nos encontramos”, e essas foram as últimas palavras que Adams, Chalise e as meninas ouviram na vida.
Quando o dia amanheceu, mais uma vez Victor não tinha ciência do que havia acontecido durante a noite, ao chegar à sala se deparou com as paredes sujas de sangue e os pais decapitados, as meninas estavam completamente dilaceradas, olhou para as próprias mãos, que ainda estavam sujas de sangue, caiu de joelhos no chão gritando desesperado, “como eu pude fazer isso”. Ele enterrou a família no porão da casa, como não havia vizinhos tão próximos, ninguém tomou conhecimento do ocorrido, alguns comerciantes estranharam a partida repentina deles para Londres, como lhes foi dito.
Os bruxos deixaram um pequeno baú em cima da cama do rapaz, que tinha no seu interior uma carta escrita com sangue, que dizia o seguinte:
“Caro rapaz,
sua vida não lhe pertence mais, a quinze anos atrás,
sua alma foi dada como pagamento pelos pecados dos seus pais,
voce viverá centenas de anos, será um morto vivo,
se alimentará das vísceras de humanos e sua sede só será saciada por sangue,
sentirá amor por muitas mulheres, mas sempre irá vê-las morrer.
A maldição não terá fim enquanto correr o sangue dos Frouchen.”
Victor fez suas malas e partiu para Londres, foi em busca de respostas, mas isso é assunto para outro momento, aguardem...


   
Publicado no "Livro de Ouro do Conto Brasileiro Contemporâneo" - Edição Especial - Agosto de 2014