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Juliano Paz Dornelles
Porto Alegre / RS

O Mestre e os peregrinos


Vieram três peregrinos ao templo, pedir ajuda ao Mestre. Todos estavam arrependidos e queriam arrumar os erros cometidos. Porém, nenhum sabia que estavam prestes a desapropriarem-se de si mesmos e da própria identidade.

O mestre perguntou: 'O que fizeram de errado, para ter vindo aqui pedir ajuda?'

O primeiro assumiu ter utilizado um cavalo espiritual. Na verdade, um espírito da terra, em si mesmo. Do outro lado, o próprio descendente. Mesmo assim, teria sido, erradamente, reconhecido como cavaleiro branco. Contudo, quando foi cobrado, teria de carregar o cavalo nas costas pra salvar as próprias pernas. Arrependido, esquivou-se e pediu pra voltar.

O segundo assumiu ter agido conforme o cavalo vermelho de seus pensamentos. Atribuindo a si o título de 'Guerreiro sem os outros'. Constantemente, tratava as pessoas como animais. Imaginando-lhes com o 'eu subjetivo' nas costas. Pois era isso que ele aceitaria como retorno. Propondo-se a levantar tal espírito, se preciso. Contudo, quando foi cobrado, ao ponto de ser desapropriado de suas posses e conquistas, conforme fazia com os quais não sabiam se proteger, quando dizia tê-los visto 'sem algo ou alguém', esquivou-se e pediu pra voltar.

O terceiro assumiu ter jogado do lado de fora, daquilo que entendia como sendo o 'Lá espiritual'. Retirando-se dos adversários. Agindo erradamente ao tentar fazer justiça com as próprias mãos. Definindo os retornos alheios conforme o próprio interesse. Esquivando-se da lua, vestindo camiseta preta, mal sabia que estava sendo vigiado o tempo todo. Porém, quando foi cobrado, ao ponto de ser submetido à balança alheia, esquivou-se e pediu pra voltar.

Os três seres viventes, fizeram uso do comércio ilegal, quando cometeram o erro de tentar adquirir ou comercializar o que lhe era confidenciado em amostragem ou demonstração. Mesmo quando tais coisas estavam fora de negociação.

O mestre, que havia vivido as três vidas em um momento anterior, porém, livre de cometer os mesmos erros, surpreso com o apelo, pediu-lhes os retornos e deu-lhes o perdão. A volta de cada um, foi o caminho que encontraram pra continuar.

 


   
Publicado no "Livro de Ouro do Conto Brasileiro Contemporâneo" - Edição Especial - Agosto de 2014