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Raimundo Senzala
Aracaju / SE

 

Quo vadis?


O dia nosso de cada dia nos conduzia a uma reflexão um tanto quanto atemorizante. Nossa cabeça parecia que iria espocar a qualquer momento. A neblina da manhã outonal aumentava cada vez mais como se estivéssemos sob o fog londrino. Interessante observar que, quase todas as pessoas ficavam sem entender o que estava acontecendo na vida de todos mortais.
Evidentemente, que a lufa-lufa dos costumes diários continuava com as mesmas características de um dia de trabalho com os transeuntes cumprindo os seus afazeres.
Alguns aportavam em seus semblantes uma sensação de bem-estar.
Outros, de olhares cabisbaixos pareciam não estar satisfeitos carregando os fardos diários, sem que dessem devidas importâncias aos meneios da labuta em busca de seus interesses profissionais ou de necessárias obrigações.
Também, tínhamos a impressão, que alguma coisa estava para acontecer diante de um alvorecer daquele dia que com certeza, estava sendo diferente dos demais.
Um senhor qualquer, de nome Fulano, de tal esnobando o porte de um cavaleiro nordestino, vestindo garbosamente um gibão de couro, ostensivamente cravava o olhar para o horizonte. Impressionante, era que o seu olhar denotava uma complexidade de leitura emotiva, que certamente, nos deixava embriagados por saber decifrar o momento plausível.
De repente, ouvimos no radinho de pilha do tal senhor anunciando que as maiores cidades do país desta vez entrariam num colapso estranho e que demonstrariam uma mudança de vida de um modo, geral.
Acontece que esta notícia ouvida por nós quando de nossa passagem pelo personagem nordestino, nos criou uma perspectiva ou uma apreensão ou, quem sabe; medo, coragem, esperança, dúvida ou pânico.
Nas calçadas os camelôs mercavam tranquilamente as suas bugigangas. As luzes permaneciam acesas querendo contracenar com os raios de um Sol outonal. As estrelas não eram azuis. Cintilavam com um brilho escarlate que chegamos a pensar estarmos diante dos proventos da Aurora Boreal. Mais espetacular é que ninguém sofria por insensatez. Não se notava violência de modo algum.
As forças armadas de qualquer país depunham suas armas nos calabouços dos subterrâneos da ilusão. A corrupção se tornava inútil, por não haver confronto sugerido ou sugestionado pelo agravamento dos insensatos governantes.
Alguém cantava com todo prazer, de Villa-Lobos, as Bacchianas. Alguém, também, ensaiou solfejar as primeiras notas musicais do Carinhoso, de Pixinguinha. Alguém mais, nos falou de ter ouvido seletas notas musicais de um concerto Celestial.
Por alguns momentos sonhamos nos encontros transcendentais confabulações cantantes, dentre os mais célebres seres da música universal acompanhados de Alaúdes, Cítaras, Harpas e das Tubas portentosas e melancólicas de funerais do negro Blue.
Mahalia Jackson, ainda enternecia almas em leilão cantando e esbanjando interpretações alvissareiras na canção lamento “Calvary”. Nem por isto Nat King Cole deixou de se apresentar magnificamente na melodiosa “Nature Boy”.
Não mais que de repente, tudo pareceu emudecer. A avançada tecnologia contemporânea dava sinais de um verdadeiro colapso causando pânico geral.
As pessoas andavam em desalinho sem saberem o que fazer e nem para quem apelar diante do caos instalado. A vida naquele momento e naquele dia denotava uma mudança de hábito. Ninguém tinha certeza do que estava se passando. Então, sem mais porque uma voz ecoou de modo uníssono na consciência dos seres em desalinhos. E, todos passaram a gritar de modo escancarado: O que foi que eu fiz? O que foi que eu fiz meu Deus, para estar sofrendo o inusitado desta hecatombe?
Para onde vamos? Uma turba exasperada bradava.
Outra mais turbulenta se maldizia da sorte de não entender nada do que se passava.
Garbosamente, o cavaleiro, aquele senhor de olhar fixo no infinito reflexivamente, abria alas dentre os mais desesperados, tentando, em suas prédicas alertar, que a vida de cada um de nós estava compactuada com as divergências das vivências de outrora.
Ele desafiava a todos deste modo: “Coragem, coragem, não adianta ninguém ficar chorando pelos mares que estão mortos, tampouco pela Terra despedaçada”.
Pois é minha gente: As pedras, há muito que estão rolando montanha abaixo. Os leitos dos rios começam a se rebelar contra a maldade desatinada dos seres terráqueos. Nem por isso ou aquilo, tipo a violência dos maremotos, terremotos e outras formidáveis e inevitáveis cobranças têm merecido do homem, o respeito necessário.
Porém, o homem, sob a égide de sua ignorância atribuirá há toda gama de desajuste ecológico e as causas físicas, como sendo recurso próprio da natureza.
Por razões de crassa ignorância em que poucos puderam entender o que Jesus, em sua época na Terra falou aos povos, por parábolas. Hoje, em plena contemporaneidade, nós continuamos sem entender nada.
Quem seria capaz de lembrar ter participado das atrocidades praticadas no passado?
Naturalmente que jamais nos lembraremos da participação cruel nos domínios da escravidão. Acreditamos que, ainda não nos deparamos em pensar a quantas famílias ajudamos a desintegrar no processo hediondo da compra e desintegração de famílias primitivas.
Quem lembra por questões transcendentais daquele passado?
Quando escarramos na face de Jesus, por um momento, tivemos remorsos de atos indecorosos?
Quem merece piedade? Pois a lei da reencarnação a todos será aplicada. Embora, não se possa entendê-la. Que pena! Em todas as barbaridades, em todos os atos hediondos que cometemos no passado as cobranças naturais de dívidas passadas, assim estão sendo cumpridas.
Não importa crença religiosa, nem os nossos problemas de ordens quaisquer. Eu vejo todos numa só voz a perguntar dentro de si: O que foi o que eu fiz? O que foi que eu fiz?
Do Fulano de Tal - O Criador mandou dizer: “Acabou o desejo humano de ganância. Humanidade, humanidade”... “Quo Vadis? Quo Vadis?”


   
Publicado no "Livro de Ouro do Conto Brasileiro Contemporâneo" - Edição Especial - Agosto de 2014