Rita
Hipólita Giordano Amaro
São Paulo / SP
Em cada conto um ponto de esperança
Julho. Mês de férias escolares. Estava ansiosa para
ir ao aeroporto encontrar meus netos e filha; as horas iam muito
lentas. Resolvi andar um pouco e onde a rua faz uma curva, uma
cena expôs, em detalhes, evidenciando os dois jovens homens,
conversando descontraídos na calçada oposta, em
passos lentos; e do meu lado, uma jovem abria a porta do carro...
Num piscar de olhos, os dois se aceleraram, e já com armas
nas mãos, um apontava para mim, enquanto o outro violentamente
empurrava a motorista para dentro... Fiz olhar de bispo, aquele
de quem está ali e parece que nada viu. Fixei os olhos
na placa do carro, mantive-me como se nada visse. O veículo
saiu em disparada... Com o coração aos pulos e trancos,
corri para minha casa, a uns cem metros do acontecido e liguei
para o 190 repetindo a placa, para não me confundir.
Senhora, já anotei o número. Do que se trata (?),
era a voz clara e objetiva, que me chamava a coordenar os pensamentos.
Levaram a moça; os dois estavam armados, empurraram-na,
saíram em disparada e voando... armados, fortes.. .era
tudo o que conseguia dizer.
A senhora pode informar o modelo do veículo , além
da placa e cor, indagou com a voz solícita e clara.
O nome... não sei ... era escuro, de luxo, passeio... empurraram
com violência e levaram a moça...
Poderia voltar ao local e ver se alguém pode ter visto
o carro, para completar as informações? Fique calma
.E depois pode ligar novamente, dizia com delicadeza a atendente
policial.
Havia dois pedreiros, exatamente no local que disseram nada ter
percebido. Juntou-se a mim, muito solícita, a vizinha Sonia,
e fomos batendo, de casa em casa, em todas as redências.
Definitivamente, as pessoas ficam trancadas, bem escondidas atrás
dos muros e nem percebem ou se alteram com o que se passa ao redor.
Ninguém nos foi atender. Ouvimos e vimos o helicóptero
sobrevoando baixo .
Voltei para casa,chorei, pela jovem,com a indignação
pela fragilidade,a maldade, a violência,pelo triste sentimento
de solidão, pela clara impotência das pessoas de
bem, vítimas de uma sociedade de valores em declínio
norteada pelo oportunismo perverso dos meliantes que prolifera
e se expande...
“Senhor, cuida dessa moça, não permita que
sofra maiores violências ;coloco-a sob sua proteção.
Senhor, cuida dela. Acampa seus Anjos ao seu redor; livra do mal,
cega os olhos do inimigo, nada de mal possa a prejudicar”.Cega
os olhos do inimigo, virou ladainha em minha voz e pensamento;
só pude repetir isso, o tempo todo, sem cessar ou pensar
o que dizia .Somente no outro dia, ao refazer o mesmo caminho,
vi uma senhora que chegava,apressada, em sua casa. Perguntei-lhe
se soube alguma coisa sobre roubo de carro, na nossa rua. Disse
que estive em sua porta para saber se tinha informações
de uma jovem que fora levada junto com o carro, fui dizendo, antes
que fechasse o portão.Ela respondeu que sua irmã
foi a vítima e comentou ainda, de como os bandidos, ficaram
atordoados, pareciam cegos, não se localizavam, como sem
rumo; ainda completou que ficaram muito perturbados com o helicóptero
da polícia a segui-los e a empurraram, do veículo,
libertando-a .
Tudo nos leva a crer que os bons sentimentos podem mudar o rumo
das coisas e levar a ações motivadoras de bom agir
e de esperança renovada.
“- Senhor, cega os olhos do inimigo, que nada de mal nos
aconteça. Dá-nos força e coragem, sempre.
Amém.”
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