Amaury
Villanova
Belém / PA
O mistério de Luvanor
Luvanor era um sujeito sério, pelo menos parecia ser. Chegara
sozinho em Alenquer lá pelos idos de 1980, na época
da festa de Santo Antonio, e por lá foi ficando. Em pouco
tempo, sabia-se lá como, enriqueceu levando turistas para
passear de barco pelo Rio Amazonas. Difícil acreditar nessa
desculpa (que ele dava quando questionado sobre sua rápida
ascensão financeira), afinal ninguém, nem os mais
antigos rebeirinhos dedicados a esse tipo de turismo conseguiram
tal façanha.
Tornamo-nos amigos quando eu intermediei a compra de uma fazenda
que ele queria comprar em Curuá. Daquele
Luvanor era solteiro, digamos solteirão, já que
beirava os cinqüenta anos e não tinha sequer uma namorada.
Segundo ele, nunca teve desde que enriqueceu.
Certo dia, durante os desvios de uma conversa que tivemos quando
ele festejava a compra da fazenda de Zé Emerildo, lá
pelas bandas de Óbidos, confessou-me que tinha vontade
de ter uma namorada, noivar, casar... mas não podia por
conta de um acordo.
Intrigado, pedi que ele me falasse desse tal acordo.
Um tanto contrariado, mas movido, quem sabe, pelo excesso de cachaça,
ele, por fim, se abriu:
- Pois é, meu amigo... se eu casar... perco tudo! Perco
as fazendas, perco o gado, perco a saúde...
- Mas por que, Luvanor?
Ele parou por alguns instantes. Ajeitou o chapéu e recurvou
o corpo pra frente como se quisesse contar um segredo.
- Sabe o boto?
- O cor-de-rosa?
- Ele mesmo! Foi ele que me deu isso tudo.
- Deu isso tudo pra você?! Mas o boto, pelo que diz a lenda,
gosta de mulheres...
- Pois é... só que... o que apareceu pra mim era
gay! E é ciumento da moléstia!...
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