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José Luiz da Luz
Ponta Grossa / PR

 

Arrependimento

  Dois meninos se desentenderam numa praça jogando bola, no auge da exaltação o mais velho furou a bola do mais novo numa discussão sobre as regras do jogo. Tempos depois a revolta se acalmou dando lugar a reflexão, então o que cometeu o dano se arrependeu profundamente. Veio a consciência de que era seu único brinquedo, muito pobrezinho, de roupinhas simples e que muitas vezes andava descalço.
          Começou a orar todas as noites pedindo a Deus que tirasse aquele grande sentimento de culpa do coração. Mas, mesmo depois de intensas orações, não conseguia alívio.
          Desesperado resolveu confessar para sua mãe, seu pai, embora recebesse conselhos de continuar com as preces, nada adiantava. Desesperado resolveu procurar o sacerdote da igreja que pertencia e abriu seu coração, contou sua culpa, e pediu conselhos e alento para voltar a ter paz.
          O sacerdote que ali devotava o recolheu em uma sala reservada, e aos prantos o menino desabafou:
          — Eu me arrependi e orei muito, despendi todo esforço que tinha nas orações, meu coração dói e meus olhos choram, mas a dor insiste em amargurar meu coração.
          — Filho! — respondeu o sacerdote. — Você tem certeza de que já fez tudo o que podia fazer?
          — Sim — respondeu o menino. — Eu me arrependi e pedi perdão a Deus. Fiz tudo, não é mesmo?
          — Não meu filho, falta o principal.
          O menino curvou a cabeça a pensar. Logo o sacerdote revelou o que faltava:
         — Falta você pedir perdão a ele.
          Uns dias se passaram e, quando o sacerdote passava por aquela praça encontrou os dois meninos brincando, perguntou de quem era a bola nova.
          — Era minha, agora é do mais novo — respondeu o mais velho sorridente. — Eu dei minha bola a ele por gratidão, mas ele me deu algo muito mais valioso: perdão.
          O sacerdote os abençoou e seguiu satisfeito.
          Às vezes não basta pedir perdão a Deus, é preciso antes reconciliar com nossos irmãos e reparar os erros.

   
Conto publicado no Livro de Ouro do Conto Brasileiro Contemporâneo - Edição Especial - Julho de 2015