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Andreia Chaves Pedrosa
Manaus / AM

Até a eternidade

“- Oi! Não posso atender no momento. Mas, retornarei assim que possível. Então, até mais...”.
“- Alô! Oi... Bom, essa já é a terceira mensagem de voz. Tentei falar com você no trabalho, mas fiquei sabendo que com o temporal as linhas telefônicas ficaram sem sinal e, pelo visto, os celulares também. Mas, amor, por favor, assim que puder me retorna? Eu estou ficando preocupada. Você saiu tão cedo e já passa das vinte e uma... Tudo bem. Você já deve estar voltando... Vou estar te esperando. Beijo.”
...
        Quantas e quantas vezes, eu liguei para o teu celular apenas para ouvir na mensagem de voz, a tua voz. Eu que amava tanto os dias de chuva, agora eles só me fazem chorar. E hoje, está como as noites frias que nós tanto gostávamos de aproveitar juntos, mas eu estou sozinha. Sentada bem no meio da nossa sala, olhando para tudo o que é nosso espalhado a minha volta.
        Eu decidi, finalmente, deixar para trás as lembranças do passado. Porque eu sei, que o que antes me trazia paz, agora tortura a minha alma. Estou como uma caixa cheia de coisas velhas, preciso despejar todas no chão, separar o que ainda posso aproveitar e todo o resto lançar fora. Não que seja fácil assim, porque não é. Mas, a bagagem está pesada e fazer escolhas é preciso.
        Nossas cartas, nossos CDs, os incontáveis álbuns com os nossos momentos, fotografias de um tempo tão bom. Tudo está aqui. Tudo tem você. Mas, você foi embora e me deixou apenas com as nossas recordações. Acredite, eu tentei ser forte. Até mudei minha rotina para não te encontrar em lugares tão nossos. Lugares que me davam a impressão de poder sentir você.
        Tem dias que a saudade chega a me sufocar. E, em um momento de angústia, entrei em desespero e tentei me desfazer de você. Derramei todo o teu perfume na pia, empacotei as tuas roupas, pensei em doá-las, mas ainda te vejo em cada uma delas. Então, disseram que me faria bem viajar. E adivinha? Encontrei com você lá também.
        E quando eu voltei para casa, para a nossa casa, ela estava ainda mais gélida e vazia. Foi muito pior. Senti-me ainda mais só. E sabe o que aconteceu em uma noite dessas? Eu te servi... Coloquei nossos pratos na mesa. Acho que foi porque eu fiz tudo o que você mais gostava. Fiz tudo pensando em você. Bem no fundo, eu esperava te ouvir mais uma vez abrindo a porta, jogando as chaves sobre a mesinha, cantarolando um: “- Meu amor, eu cheguei!”. E eu chorei.
        Foram anos e anos de amor, de cumplicidade, de carinho e de muito respeito. Tivemos uma vida, ainda que curta, mas uma boa vida juntos. Eu pensei que nós iríamos envelhecer um ao lado do outro. Então, você partiu. E se tem uma lembrança que me assombra, que me acorda todas as noites, é aquela da última vez que te vi. E como dói saber que meu coração não queria te deixar sair naquela manhã e, mesmo assim, eu deixei.
        Por isso, meu amor, eu estou escrevendo essa carta, esse desabafo, é
uma despedida. Porque eu sei que você não voltará mais. No entanto, só a sensação de te escrever já vale a pena. E só para você saber... Ao longo desses anos tristes e cinzentos, cheios de dor, é você quem me faz dormir sorrindo, é a saudade que eu sinto de você que me consola, é o amor que eu carrego dentro do meu coração, que me faz perceber que chegou a hora de voltar a viver. Mas, eu sei que sempre vou amar você.
Até a eternidade...
Teu amor! 

   
Conto publicado no Livro de Ouro do Conto Brasileiro Contemporâneo - Edição Especial - Julho de 2015