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José Faria Nunes
Caçu / GO

O homem que virou peixe

Lindomar, o melhor nadador do povoado, a cada emergência no rio Claro, lá ia ele apresentar seus préstimos. Salvava pessoas descuidadas que se afogavam, resgatava animais de estimação que caíam de canoas ao atravessar o rio.
Ele tinha muitas histórias.
Lindomar era referência em qualquer situação em que necessitasse de um bom nadador ou mergulhador.
Um herói para a comunidade.
Sempre que chamado orgulhava-se em apresentar resultados positivos de suas incursões pelas águas mansas ou revoltas do rio.
Certo dia eclodiu a notícia de uma jardineira que caíra da balsa no rio. O fato mobilizou a população do povoado e região.
Jardineira era micro-ônibus, um arremedo de van atual.
Todos os nadadores do povoado e de povoados vizinhos foram chamados.
Claro que Lindomar foi o primeiro deles.
Todas as pessoas da jardineira foram resgatadas, algumas ainda com vida.
No meio do tumulto, perguntaram por Lindomar e não o encontraram. Então ele passou a ser procurado no rio pelos demais nadadores. Vasculharam todos os cantos e recantos do rio desde a balsa aos fundos do povoado até sua foz no rio maior, o Paranaíba.
De Lindomar, nenhum sinal.
Tempos depois, segundo um velho pescador do rio Claro e amigo de Lindomar, ele tinha virado peixe. Aparecia quando se fazia lua cheia em noites de sexta-feira.
Outros pescadores, com frequência, tiveram a mesma visão.
O corpo era de peixe, um grande peixe dourado, do tamanho de um homem, com uma cabeça humana. Era a cabeça de Lindomar.

   
Conto publicado no Livro de Ouro do Conto Brasileiro Contemporâneo - Edição Especial - Julho de 2015