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Gilson Silva de Lima
Itupiranga / PA

 

Dias de lágrimas

A noite estava linda! Enquanto as estrelas corriam e a lua refletia sua imagem na água do lago, Ricardo estava sentado sobre um pneu velho debaixo de um pé de mamão, relembrando os dias passados e com esperança nos futuros. O que um senhor de 62 anos poderia almejar para o futuro? Me aproximei dele com a incerteza martelando a minha mente.
Depois de lhe fazer a pergunta. Ele respondeu na lata:
- Justiça.
Sua resposta me doeu o coração. Ele conhecia a dor do sofrimento mais que eu. Então me aprofundei no assunto e perguntei:
- Por que justiça?
Com um olhar triste! E a voz pausada. Ele começou a explicar que tudo que havia acumulado na vida era tristeza. Perdeu o filho num assalto, a mulher num sequestro e dois irmãos assassinados. E havia muito mais, citou apenas alguns como fatos marcantes em sua vida.
Para ele foi dolorido passar por todos os momentos tristes e continuar passando, mas muito mais dolorido foi perceber que a justiça do homem é uma justiça de fachada. Às vezes pensava em fazer besteira, para quê? Só iria iniciar uma reação em cadeia de vingança por cima de vingança.
Com o passar do tempo percebeu que o planeta terra não é o mundo dos inteligentes. Só dos “ignorantes”, que matam, que roubam, que mentem, que enganam, que manipulam, que falsificam, que estupram, que preferem guerra em vez de paz, que desestabilizam a ordem e que se omitem em praticar a justiça verdadeira a favor do cidadão... Um mundo assim, para ele não é o ideal.
Pois, não queria ter que dividir a história dos seus dias de lágrimas com ninguém, nem queria que outras pessoas dividissem com ele. Por isso, tomou umas decisões: nunca se aprofundar e revelar as suas dores para outras pessoas, as mesmas não irão resolver seus problemas; nem acreditar e confiar em promessas humanas do tipo que dizem que haverá um mundo melhor.
Já estava de cabelos brancos e cansado de ouvir tal promessa enganosa. Então concluiu dizendo que continuaria vivendo seus últimos dias de lágrimas com a certeza que só o Salvador do mundo haveria de construir um planeta onde as pessoas se entenderiam e não haveria diferenças, mais diálogos e não matança de vidas inocentes.

 

   
Publicado no livro "Misticismo e Fanatismo no Conto Brasileiro" - Edição Especial - Fevereiro de 2015