Helena Maria S. Matos Ferreira
Guapimirim / RJ

Vazio

Tudo é singularmente estranho. Aqueles votos de Feliz Natal, aqueles abraços que no momento parecem sinceros, mas que não perdurarão por todo o ano. Não tem importância, porque nesse dia todo especial sabemos que tudo é possível, por obra e graça do aniversariante. Não bebi, mas meu corpo reclama dolorido. É uma ressaca da vida. Não existe medicamento para tais dores, para a cabeça meio tonta, desconectada e ao mesmo tempo tão perceptiva. O que será que está acontecendo? Que circunstâncias levam um ser humano a ressaquear sem bebida? Receio que a própria vida oferece um álcool entorpecedor dos sentidos, dos sentimentos, das incertezas. É quase final de ano, tempo de balanço existencial. Quem sabe é essa contabilidade que causa tanto torpor, corpo pesado, sem vontade de levantar de uma poltrona, de uma cama ou até do tapete de grama? Olhar o horizonte sem perspectivas imediatas de mudança. Vontade de varrer todos os meios, juntar as extremidades, acabar com o bom senso e decidir o que não se pode decidir, porque a autoridade é a idade da tomada de decisões. E esta idade não chegará nunca; só o Amor que não é humano é capaz de decidir. E a ressaca continua. Sem cálice, sem vinho...