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José de Sousa Magalhães
Piracuruca / PI

 

A moça da janela

Na pequena cidadezinha de São Miguel da Baixa Grande, no interior do Piauí, mora a jovem Isabeli, uma garota de dezoito anos; umas das moças mais belas da cidade, cabelos cacheados e loiros, olhos azuis e sorriso marcante. Mas todos só a conheciam pelo rosto, pois, quem a via, só via pela janela. A menina não saía por nada nesse mundo, passava o dia inteiro olhando tudo que passava na rua, o clima, os animais, enfim, tudo, somente pela janela.
É estranho imaginar que ninguém soubesse o porquê de a menina não sair de casa, ela tinha aulas em casa, uma professora particular era paga por sua mãe para que a menina estudasse. A mãe, essa não abria a boca para falar nada da jovem Isabeli. A dona de casa era alegre e conversava com todos, mas se fosse para falar de sua filha, logo mudava de assunto ou ia embora.
Certo dia pela manhã, um rapaz passa em frente à casa de Isabeli, e depara-se com a menina olhando para ele, o jovem, que estava de bicicleta percebe e resolve parar. Quando a menina nota a presença do moço, abaixa a cabeça. O rapaz sorri e vai embora desconcertado. O rapaz era Filipe, um belo estudante universitário que frequentava o último período de Direito em uma cidade próxima, visto que na cidadezinha não tinha universidade. O rapaz era alto, forte, um típico homem que toda mulher gostaria de namorar.
À tarde, o jovem volta e vê a menina novamente, desta vez, resolve conversar com ela.
- Oi, me chamo Filipe e você?
- Isabeli. - Respondeu a menina tímida.
- Por que você não sai para que possamos conversar melhor?
- Não posso.
- Mas por quê?
- Não posso!
- Então, podemos conversar assim mesmo. - Disse Filipe sentando na bicicleta e começando a conversar com Isabeli.
- Você não vai embora?
- Não. Por que eu iria?
- Bem, todos me acham estranha e ninguém que conversar comigo, preferem ir embora.
- Olhe Isabeli, que é estranho é, mas... Gostei de você, quero conversar.
Responde o jovem sorrindo.
Os dois conversaram quase por duas horas, eles sorriam muito, conversaram sobre muitas coisas, até que ao pôr do sol, Filipe vai embora, prometendo voltar na tarde seguinte. A menina suspira de felicidade, como se nunca tivesse tido um amigo antes.
No dia seguinte, ela vê o rapaz passando de manhã e acena para ele que volta apenas à tardinha novamente para conversarem. E assim foram por vários dias. Durante um momento, em uma de suas conversas, Filipe pergunta a Isabeli se pode entrar, ela imponentemente diz que não.
- Mas por quê? Não vou lhe fazer nenhum mal!
- Eu sei, mas eu... eu não quero!
Responde a menina chorando e indo embora!
- Isabeli! - Grita o rapaz.
Naquele dia, os dois saem tristes da conversa. O rapaz volta no dia seguinte, ela não aparece. No outro, não aparece e no outro também não aparece. Até que um dia ele passa e ela está lá, do mesmo jeito na janela.
- O que houve? Por que você sumiu?
Indagou o rapaz preocupado.
- Tive que fazer uns exames em Teresina. Desculpa, não tive tempo de lhe avisar. - Respondeu a menina ainda triste.
-Tudo bem.
- Me desculpe por aquele dia que não deixei você entrar, é porque minha mãe pode brigar comigo.
- Está tudo bem, Isabeli. Eu também peço desculpas pela minha intromissão. De agora em diante, não farei nada contra sua vontade.
Falava o rapaz. Os dois sorriram e continuaram a conversar. Depois de dois meses conversando, Filipe leva um ramalhete de flores para Isabeli, e a pede em namoro.
- Você é muito especial para mim Isabeli. Quero namorar com você!
Diz o rapaz arremessando o ramalhete por cima do muro baixo da casa de Isabeli. Isabeli, deixando escorrer lágrimas dos olhos aceita o pedido. Mesmo à distância e separados por um pequeno muro de adobe e uma janela os dois se apaixonaram e vivem agora, um amor verdadeiro.
Foram seis meses de um namoro a distância, até que certo dia Filipe pede mais uma vez para entrar em sua casa para poder conversa com a mãe de Isabeli que nunca aparecia, era normal, já que o horário em que eles conversavam, ela estava trabalhando. Filipe continua recebendo um não de Isabeli, mas mesmo assim entende mais uma vez o caso de Isabeli.
Um dia Filipe resolve ir mais cedo para conversar com Isabeli e sua mãe, quando chega vê Isabeli chorando e gritando.
- Meu Deus ,o que houve Isabeli? - Perguntava Filipe, desesperado.
- Me ajude por favor!
Gritava a jovem desesperada. Filipe corre para abrir a porta e vê o que estava acontecendo, mas não conseguia abrir a porta, pois estava trancada. O jovem usa a força e consegue arrebentar a porta, quando abre depara-se com duas surpresas desesperadoras! A primeira: A mãe de Isabeli estava no chão desmaiada e a segunda; Isabeli estava em uma cadeira de rodas.
- Você...
Disse Filipe sem ação.
- Sim, eu sou cadeirante. Ajude minha mãe, pelo amor de Deus!
Filipe corre para chamar ajuda, em pouco tempo a ambulância chega e leva Dona Adelaide, mãe de Isabeli para o pronto socorro.
-Fique calma! -Disse Filipe tentando acalmar Isabeli.
Dona Adelaide teve apenas um pequeno derrame, ainda no pronto socorro ela agradece muito o rapaz.
-Vou ter que ir agora, já está tarde. - Disse Filipe a Isabeli e depois indo embora.
No dia seguinte Filipe vai até a casa de Isabeli, neste dia demora um pouco a chegar, o que deixa Isabeli preocupada, achando que o rapaz nunca mais voltaria, já que soube que a menina era deficiente, e se voltasse seria para terminar o namoro. Ao ver o rapaz ela diz:
- Pensei que não viria mais. Olha se você...
- Não diga nada.
Disse Filipe ajoelhando-se e beijando os lábios de Isabeli.
- Queria fazer isso há muito tempo. Quer se casar comigo? - Pediu Filipe.
A menina ficou desconcertada. A mãe, que já estava bem, observava de longe, ela já sabia de tudo, pois de manhã, enquanto Isabeli dormia, ele havia conversado tudo com ela. A menina chorando de emoção responde que sim, e após um mês se casam e vive uma vida normal e feliz. Essa história pode até ser ficção, mas mostra que as diferenças não devem existir e que as pessoas podem ser felizes independente de ser diferentes ou não, o importante é a força do amor.

   
Publicado no livro "Misticismo e Fanatismo no Conto Brasileiro" - Edição Especial - Fevereiro de 2015