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José Antonio Silva Santos
Rio de Janeiro / RJ

 

As bruxas do Rio Guandu

   No verão de 1978, uma família cinco pessoas chegou ao lugarejo conhecido por Guandú, o qual era cortado por um rio com o mesmo nome, eles compraram um hectare de terra, onde parte seria para o plantio e a outra parte para pasto. João Paulo era um gaúcho descendente de alemãs, que cultivava as tradições dos pampas, a mãe era uma mulata que mais parecia uma baiana, chamada Lucivera, eles tinham três lindas filhas, Lúcia, Leila e Laura, elas eram lindas morenas com cabelos claros e olhos azuis, que de tão claro parecia ser todo branco, o que lhes causavam muita sensibilidade à luz solar.
   No Rio Guandú tinha área conhecida por prainha, onde algumas famílias se reuniam aos domingos, as meninas também adoravam o banho de rio, mas devido a intolerância aos raios solares, João Paulo as levava nas noites de luar, Lúcia era a mais velha e nadava como um peixe, e aos treze anos de idade já tinha um belo corpo de mulher, mas era criança como as outras, e as três se divertiam muito enquanto o pai pescava. Certo dia, Lúcia percebeu que o pai estava irritado por não conseguir pescar nenhum peixe, então convocou as irmãs para darem as mãos e chamarem os peixes, e subitamente, os peixes começaram a pular na direção do pai que teve que correr, as meninas olhou uma para outra e se acabaram de rir. Mesmo sem conhecer verdadeiramente o poder que tinham, elas passaram a usar a força da mente em muitos casos.
   Cinco anos se passaram e as meninas se tornaram belas moças, e chamavam a atenção dos homens que trabalhavam no sítio, havia um em especial chamado Edmundo, o qual ganhava a confiança de Lúcia a cada dia, então ele a convidou para um banho de rio noturno, tudo aconteceria sem o conhecimento dos pais, e as irmãs lhes dariam cobertura. O rapaz tentou convence-la a tirar as roupas, alegando que ela precisava chegar seca em casa, ela então tirou o vestido e ficou de calcinha e sutiã. Edmundo ficou louco com o corpinho da jovem, trocaram alguns beijinhos, mas ela sempre o repreendia quando ele tentava tocá-la mais intimamente, quando ela menos esperava, ele rolou para cima dela arrancando-lhe o sutiã violentamente, e por mais que lutasse, não conseguiu evitar que ele lhe rasgasse a calcinha, seus poderes não funcionaram longe das irmãs, então o estupro aconteceu.
   João Paulo saiu à procura de Lúcia com as outras filhas e um empregado que morava no sítio com a esposa, já passavam das dez da noite e o lugar não tinha iluminação pública, isso provocava uma enorme preocupação. Depois de vasculharem alguns lugares, chegaram ao local chamado de Bambuzal, então encontraram Lucia nua deitada no chão, suas roupas estavam jogadas sobre um arbusto, então seu pai tirou a camisa e a cobriu, ela não conseguia falar nada, apenas chorava copiosamente. João Paulo caminhou aproximadamente quinhentos metros carregando a filha no colo. As três irmãs dormiram abraçadinhas nesta noite, prometendo uma para outra que jamais alguém iria conseguir machucar uma delas, e que Edmundo pagaria muito caro pelo que fez.
   Depois que a filha se acalmou, João Paulo pegou sua espingarda de caça e foi atrás de Edmundo, invadiu a casa dos pais dele, mas não o encontrou, fez algumas ameaças ao pai do rapaz, mas caiu em si e entendeu que a ninguém mais tinha culpa pelo que ele fez. A procura durou vários dias, mas ele sumiu sem deixar rastros, há quem diga que ela estava na casa de parentes em outro estado.
   Dois meses se passaram, e quando a vida começava a seguir seu curso normal, veio a triste constatação de que Lúcia estava grávida. Num ato de desespero, ela foi com as irmãs ao local onde foi violentada, lá entraram numa espécie de transe, onde diziam palavras numa língua desconhecida, o céu escureceu, uma ventania movia as águas correnteza acima, e enquanto a chuva as molhava, o sangue escorria pelas pernas de Lúcia, formando uma poça sob seus pés. De repente tudo voltou ao normal, o vento e a chuva pararam, e as estrelas do céu reapareceram, a única mudança ocorreu no ventre de Lúcia, o bebê se foi...
   Edmundo voltou e ficou escondido na casa dos pais, mas não pode evitar que sua presença fosse sentida pelas irmãs, que cada vez assumia mais a condição de bruxas. Por volta das três horas da madrugada, as três se colocaram a frente do esconderijo de Edmundo, então se deram às mãos e a ventania começou, o telhado da casa foi arrancado e tudo que estava dentro saía voando, então a mangueira do gás se soltou, no exato momento em que Edmundo abriu a janela e viu as três irmãs num transe diabólico. O pai do rapaz riscou um fósforo para acender uma vela, já que a energia havia sido cortada com o desabamento do teto, e o gás que havia tomado conta de toda casa, se transformou numa enorme labareda de fogo seguido de uma enorme explosão, e um corpo em chamas foi arremessado para fora, onde as irmãs assistiram as gargalhadas, era Edmundo que se debatia em chamas até ficar imóvel, então seu corpo foi desintegrando aos poucos.
   João Paulo havia seguido as filhas e presenciou tudo aquilo, ele não queria acreditar no que acabara de ver, então caiu de joelhos no chão e pediu aos céus que livrasse suas filhas daquela maldição, não conseguia aceitar que suas menininhas eram bruxas poderosas e perversas.
   As bruxas não conseguiam amar ninguém, nem mesmo seus pais, então resolveram cuidar das próprias vidas, mas para isso elas precisavam de dinheiro, então Lúcia começou a se prostituir, e não demorou muito para que as irmãs seguissem o mesmo caminho. Em pouco tempo elas se tornaram donas de um bordel muito frequentado, onde usavam seus poderes de bruxas para alcançarem seus objetivos. As bruxas usaram o terror para dominar a população, formaram um grupo de assassinos que agiam em troca de sexo, eles raptavam as meninas acima dos treze anos de idade, escolhidas por Lúcia para serem escravas sexuais, e ai daqueles que entravam em seus caminhos. O domínio das bruxas parecia que jamais teria fim.

 

   
Publicado no livro "Misticismo e Fanatismo no Conto Brasileiro" - Edição Especial - Fevereiro de 2015