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Dauro Guimarães
Caçu / GO

 

Dois amigos

Criados na mesma fazenda, Pedro e Manoel eram inseparáveis. Em qualquer lugar que estivesse um o outro estava perto. Isso nas horas de lazer, porque nos dias de trabalho não havia tempo para brincadeiras.

Todos os domingos eles escolhiam uma atividade para se divertirem. Tomar banho no rio ou no córrego, caçar com estilingues. Às vezes usavam armas de fogo para matar animais silvestres como pacas, mateiros, catetos e outros que são da carne comestível.

As pescadas também eram frequentes, em uma dessas, eles estavam em uma canoa a remo. Pedro, apesar de toda a habilidade, por um descuido, deixou que as corredeiras os levasse em direção a uma pedra. E naquela trapalhada, virou. Os dois ficaram em maus lençóis, nadar com roupas não era fácil, e eles não queriam perder a embarcação.  Eles, então, segurando no fundo da mesma, conduziram-na, até a margem mais próxima.

Tudo para eles estava bom, acidentes assim sempre aconteciam e tudo acabava bem.   

S´que o tempo passava, a idade de namorar havia chegado. E eles não fugiram à regra, Manoel, que cortava um doze por Francisca, conseguiu conquistá-la e ainda muito jovem casou-se com ela.        

Pedro, dois anos depois fez o mesmo, não quis ficar solteirão. Marta preenchia os requisitos por isso foi escolhida. Os filhos vieram para completar as famílias, Manoel e Francisca, tiveram sete filhos, Pedro e Marta um pouco mais, nove.                              

No entanto, esses dois amigos, durante todo tempo de convivência, sempre divergiam quando o assunto era "o céu", que segundo as ideias do Pedro, o céu era de um jeito que ele contava com riqueza de detalhes, segundo seu pensamento.

Manoel discordava do amigo porque pensava diferente e expunha da sua maneira. Eles nunca chegavam a um consenso. Até que um dia resolveram fazer um trato: quem morresse primeiro, que viesse e contasse para o outro qual deles estava certo.

Pela força das necessidades, mudaram para longe e perderam o contato. Muitos anos passaram sem saber notícias um do outro. Até que... certo dia...

Pedro caminhava por uma estrada tortuosa dentro da mata e ao se aproximar de uma curva deu de cara com Manoel - o velho amigo - que vinha ao seu encontro, demonstrando grande alegria por tê-lo reencontrado. Pedro o cumprimentou. E Manoel, para sua surpresa respondeu simplesmente:

- Olhe, amigo Pedro, o céu não é do jeito que nenhum de nós dois pensava!...

E desapareceu.

   
Publicado no livro "Misticismo e Fanatismo no Conto Brasileiro" - Edição Especial - Fevereiro de 2015