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Neri
França Fornari Bocchese
O recado, tempos depois No ano de 1980, entre tantos fatos, passíveis de virar a página, almejando mesmo que eles nunca tivessem acontecidos, existem lições. Era quase final de ano, o Roque de manhãzinha comunicou mais um dos recados, entre tantos recebidos por nós. Disse ele: - O teu pai pediu para eu ir lá a casa dele, tirar a espingarda que está desmontada e, guardada. Está na última prateleira da dispensa, nua caixa. Ainda recomendou: - Engraxem bem. Para não enferrujar. Faz tempo que não é lubrificada e, nem manuseada. Perguntem ao Nereu Luíz, se ele quer a espingarda. Se ele não tiver interesse, entreguem ela para o tio Leônes. Perguntei: - Isso mesmo que ele disse?? Você não está enganado?? - Não. Respondeu. Ouvi bem, ele estava com a camisa azul, aquela que você deu de presente no último aniversário. Lembra o quanto ele gostou? Ainda comentamos, não troca mais de roupa. Nós estávamos sentados à mesa, depois do almoço, bateu no meu braço chamando a atenção e, falou sobre a sua relíquia de caça. - Engraçado esse aviso. Desde que me conheço por gente sempre ouvi dizer ser a espingarda para o Nereu Luíz. Ele nunca quis nem vender a jóia rara. Nem quando passamos por necessidade. À noite, fui lá em casa, falei com a minha mãe: - O pai veio dar mais um recado. Disse para tirar a espingarda, da última prateleira, dar uma boa engraxada, se o Nereu Luìz não quiser é para dar ao tio Leônes. Eu não entendi. Por que o tio ? ? - Há, disse a dona Eloá, já havia me esquecido, mas é o seguinte: Quando ele esteve aqui em Pato Branco para assinarmos o inventário do Papai, pediu a espingarda para o teu pai, ele respondeu como sempre: - A espingarda é do Nereu. Se ele não a quiser, daí será tua. O tio ainda disse: - O Nereu gosta de caçar?? - Acho que não, ele sempre morou na cidade. E, falaram de caçadas memoráveis nos Pampas Gaúchos tanto em Arvorezinha, como em Soledade. - Mas, eu nunca falei nada disso pra ninguém, estávamos só nós três na cozinha. Quando teu pai partiu, muitos senhores, desses querendo sempre aparecer como homens sérios, de boa índole, chegaram a bater na minha porta. Afirmavam eles, terem comprado a espingarda. Um deles, chegou a dizer que já havia repassado o dinheiro. Respondi: - Não quero conversa, não acredito, falei com firmeza. A espingarda sempre foi do desejo do Celeste, para ser herança do meu filho. Entre tantos recados dado por ele, talvez não tenha tido tempo de falar tudo o que queria, esse foi um dos que marcou. A espingarda fora comprada em 1950 na cidade de Barros Cassal-RS. Marca famosa Diana, de dois canos, possibilitando dois tiros em seguida. Calibre 24, registrada sob o número 59.095 dimensão do cano 0,75. A coronha de madeira. A arma que originou o recado, tempos depois. . . É agora patrimonio da família.
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Publicado
no livro "Misticismo e Fanatismo no Conto Brasileiro" - Edição
Especial - Fevereiro de 2015 |
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