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Roselena Salgueiro Ruivo
Belém / PA

 

É preciso (re) inventar a natureza

O vento soprava gelado, cada vez mais forte, arrastando as folhas que caiam das árvores e se amontoavam pelas ruas, pelas calçadas.
Não tardou a começar a chover, chuva forte, mas rápida, arrastada que fora para outras paragens pelo vento, deixando um cheiro forte de terra molhada no ar. E um riacho feliz a transbordar... Motivo de contentamento da criançada do lugar.
Agora todos podiam sair de suas casas, cadeiras nas calçadas, a observar o movimento. É o que fazia todos os dias o bom velhinho, figura benquista naquele povoado. Deixava-se ficar a contar belas histórias para quem quisesse escutar. Histórias ou divagações de abastança de uma natureza já um tanto desgastada, castigada gradativamente pela má ação do homem.
Por conta disso, o bom velhinho obrigava-se a digerir com imensa tristeza, as terríveis e cruéis mudanças que iam ocorrendo. As chuvas tornavam-se cada vez mais escassas, a ponto de ir secando o riacho, a vegetação, modificando completamente a paisagem do povoado antes tão festeira, florida e verdejante. O que se via agora era como um tenebroso deserto.
Onde o encanto da chuva?
Onde o cair dos pingos sobre a relva?
Onde o transbordar do riacho?
Até o bom velhinho para sempre se fora!
Agua não mais...
Agora só pingos de lágrimas havia...

   
Publicado no livro "Nó em pingo d'àgua" - Edição Especial - Abril de 2015