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Neri França Fornari Bocchese
Pato Branco / PR

 

Quem diria...

A irmã água, cantada pelo imortal poeta de Assis:
"Louvado sejas, meu Senhor,
pela irmã água que é tão útil e humilde
e preciosa e casta."

 

- Mãe,  não tem água...?! - Disse a criança.

A mãe ficou pensativa e, matutou:

A  água, o berço, o alimento da vida na  ordem da natureza material, ela é necessária e insubstituível. Não se pode viver sem ela. O lado espiritual, primeiro versículo do Gênesis, o Batismo. A última lágrima.

O Brasil, país de tanta água, de chuvas constantes, do maior rio do mundo, enorme litoral e, as torneiras secaram... O que está acontecendo?

Como entender o aviso da natureza. É preciso cuidar da água com muito carinho. Não maltratá-la.

A água presente desde sempre. Cíclica, evapora, torna-se nuvem, despede-se da altitude, volta a Terra para aliviar o calor, matar a sede. Em forma de gotas, abençoadas, rejuvenesce a vida vegetal, a vida animal. Ainda infiltra-se para de forma prodigiosa formar mananciais subterrâneos.

A água de todo o dia. Do banho gostoso. Das brincadeiras de crianças, jogar água uns nos outros. Água de tantas lembranças.

Não podes desaparecer. Precisamos de ti. Como viver sem tomar água, sem brincar na água, sem tomar banho. . .

Água bendita do meu país, água brasileira, para onde fostes? Escondeu-se em que lugar?

- Mãeeeeeee. . .Não tem água!!! - Repetiu o menino.

Despertou do devaneio. A realidade. E, agora o que fazer? Não sabemos fabricar água. - Disse a senhora.

A água um ser sensível, "Senhora da Vida", - filosofou.

Na verdade não me escondi. Eu sempre estou presente em algum lugar desse planeta Azul. O homem é que brinca comigo. Seca as minhas nascentes por qualquer motivo. Pensa que sou estorvo.

Enche de entulhos o lugar sagrado em que broto da terra. Corta só pelo prazer de ver cair, às árvores que me protegem.  Desvia o meu percurso. O pior de tudo é quando por insensatez me colocam encaixotada, constroem ruas, avenidas e prédios por cima de mim. Deixam-me no escuro, eu que sempre gostei de ver o Sol nascer.   Ele chega devagarzinho, ai esquentando as minhas gotículas, eu evaporando amenizo o clima. Sem esquecer que nas noites enluaradas continuo me movimentado, assistindo o espetáculo da vida. Quantos amores eu presencio. Quantos nascimentos eu sou testemunha. Os animais que de mim precisam, também padecem. Aos poucos vão desaparecendo. Os homens vão destruindo as matas, eu fico sem o suporte, para renovar-me.  Eu ainda não sei quem sofre mais se sou eu a água ou é a árvore. Elas, por qualquer pensamento são cortadas, nem uma outra é plantada em seu lugar. Penso que elas padecem mais do que eu, pois cortada são transformadas em lenha. Eu ainda escorro, evaporo, infiltro-me. Como sou benção divina, evaporo límpida, deixo os sais, as sujeiras  na terra. Só que sem as árvores, eu não tenho como existir. Preciso muito delas. Vivemos numa simbiose de gratuidade. Somos vida e geramos vidas.

Se a humanidade não repensar o que está fazendo, não sei como vão ser os dias vindouros.

Eu, fico muito triste quando tento jorrar, saio devagarzinho das entranhas da mãe Terra. Um pequeno filete vai se formando, vou recebendo outros de braços abertos, junto vem também toda a espécie de lixo, aos poucos fico um caldo. Por que o homem criado com inteligência, não há usa em meu favor?

Fico triste quando os ribeirinhos lançam a rede na busca de alimento, os peixes não suportaram a poluição, vão desaparecendo. Nem alimentos, posso eu proporcionar. É com desgosto, que me vejo como causa de desolação.

O meu consolo é nos lugares preservados, quando as famílias brincam, divertem-se. Quando rolo, tranqüila e límpida na cachoeira, vou deslizando sobre a rocha. O meu murmúrio é uma benção. Uma cantiga de ninar presencio a alegria, ela me contagia. Penso que bom seria se fosse sempre assim. Foi dessa forma que eu nasci límpida e cristalina.

Também me preocupo com as crianças que não tem água pura para beber. Ficam doentes, elas não são culpadas pelo que os adultos fazem comigo.

Sou necessária. Só é preciso ter consciência, não me poluir, não desmatar, que assim eu não vou faltar.

A mãe parece ter ouvido e sentido o lamento da água. Pegou a criança no colo, sentou-se na varanda e,falou a ela o que tinha sentido.

Na sua inocência o menino disse:

- Pobrezinha da água. Não vou mais jogar ela fora. Não quero ficar sem água para brincar, beber, tomar um banho gostoso.

- E, ter a roupa limpa - lembrou a mãe.

Quando for a escola vou falar para os meus amigos. Eles precisam também cuidar da água.

A mãe abraçou o filho. Beijou-o e assim falou:

- Se cada um de nós,  fizer a sua parte... Teremos água límpida. 

 

   
Publicado no livro "Nó em pingo d'àgua" - Edição Especial - Abril de 2015