Um pingo de orvalho segue às milhares de gotas que vêm do céu. Depois que são depositadas em todos os lugares, só algumas refletem da imensidão, no azul, um fogaréu... Parte aquecida sobre a terra retorna à origem, outra parte destemida, desce ao abismo, aliviando a sede dos aflitos grãos, enraizados na dor da escuridão...
Um pingo segue ao outro nas gotas de um chuveiro. Caem. Percorrem os corpos, que suados, sujos de um dia inteiro, nutrem-se em cada pingo d'água, como um bem que não se esgota. Sem pensar na natureza quantos pingos desta água ela comporta...
Caem uns pingos, de suor ou pranto, da fronte de alguém, que logo cedo sai, enquanto a noite vai, cedendo pouco a pouco o céu a um novo dia. Leva sua marmita, que é pré-aquecida, como um Zé ninguém. Salga os pingos d'água com as lutas de tristeza ou alegria, sem que tenham paradeiro... Vai e volta do seu dia sem saber se tudo é verdadeiro.
Cai de gota em gota, um soro garantindo a vida. Do doente esquecido pelas emergências e nas UTI's que a morte entretém. E a morte, com certeza, aguardando sem clemência... Com urgência vai ficando a necessária convivência, entre os homens, para em breve se reestabeleça a saúde do bem.
Cai um pingo de sangue do joelha da criança. Jorra em borbotões do peito assassinado, e a última gota de vida cai sem esperança... Enquanto, "Band-aid", transforma a dor em breve lembrança, vemos que, nem mesmo a mortuária urna, faz que a mente se esqueça, e nunca descansa...
E segue assim em pingos tudo na vida... A própria vida é um pingo no mar da eternidade, e a fonte que gera a vida não se esgota de pingar.
A fonte, no entanto, que nasce à montanha não é fonte que prossegue assim perene. Depende da gente, depende de uma gota de esforço. E quando se vê, ó moço, a luta de um "José", a vida de uma "Maria", que sem rostos, fazem papéis honestos de homem e de mulher... Sinto que a dor é diversa, mas, a todos é comum. Contudo, dar "nó em pingo d'água", não é pra qualquer um...!