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Maria José Zanini Tauil
Rio de Janeiro / RJ

Gata Borralheira contemporânea

 

 

“É como o sol de verão queimando no peito, nasce um novo desejo em meu coração”.  O rapaz se bronzeava ao sol, tomava uma cerveja em latinha e ouvia o Roupa Nova, pelo youtube do celular. Calor escaldante nas areias da praia da Barra da Tijuca, jovens de corpos esculturais desfilando beleza e arrancando suspiros.

Sob um guarda-sol amarelo, ao lado, uma jovem de cerca de dezesseis anos, de bermuda, camiseta e óculos escuros, lia um livro. As irmãs e a prima, aparentemente pouco mais jovens, iam , vinham e insistiam: “Vamos, Camilla! A água está uma delícia!” –sem levantar os olhos do livro,ela  responde: “Não quero, Rafaela.” -a outra, Gabriela, sugere: “Ao menos, tire essa roupa!” –a menina nem responde. Mariana, a prima, insiste: “Vamos, Cacá!”
Para o rapaz ao lado, o nome foi uma dica e ele fala: “ Vai Camila! A água está muito boa mesmo!Deixa para estudar em casa.”  -a menina levanta os olhos
 sobre os óculos e só responde secamente: “ Não quero...”

Pouco depois, Gabriela, Mariana e  Rafaela voltam e sentam sobre suas cangas. Súbito, Gabi exclama: “Gente! Esse rapaz aqui do lado é o Duda, da Malhação.”- Camila levanta os olhos e olha ligeiramente e sem interesse. “É, acho que sim.”  - Rafa comenta: “As meninas da praia ainda não o descobriram aqui!” - e  Mariana completa: “Que privilégio o nosso! Um colírio para os olhos!”

Mariana tira de uma sacolinha um pacote de biscoitos de chocolate, distribui com as primas e, ao notar que o rapaz está olhando, oferece. Imediatamente, ele aceita e vem buscar os biscoitos.Logo estavam num papo bem animado, pareciam velhos conhecidos. Camila continuava com sua leitura e o rapaz, Fernando o seu nome, retruca: “compenetrada a Camila!” - ela deu um sorrisinho forçado e voltou à leitura.

Uma buzinada de carro; o pai veio buscá-las. Recolhem seus objetos, se despedem com beijinhos do ator.Ele deixa Camila por último e oferece-lhe um cartãozinho e, ao beijá-la nas faces, sussurra: “ acho que não lhe despertei nenhum interesse, mas interessei-me demais por você. Me telefona? Por favor?”  - as irmãs, sabendo que Camila jamais o faria, ofereceram seus celulares e até o telefone de casa. Por educação, Camila deu também o seu.

Nem preciso dizer que a mocinha foi chamada de burra pelas irmãs, pela prima e muitas amigas, que da história souberam. O questionamento era o mesmo: “Por que ela? Com uma camiseta chinfrim, uma bermuda quase nos joelhos e escondida atrás de enormes óculos? Uma verdadeira borralheira acha um príncipe e nem dá bola pra ele!” – o comentário de Camila era o mesmo sempre: “Ora! Devem existir mil garotas atrás dele! Um convencido! Claro que não vou ligar! Ele deve ter jogado nossos números no lixo, suas tolas!”

Só que, cinco dias depois, Fernando ligou para Camila: “ Se Maomé não vai à montanha...”- pediu o endereço dela e perguntou se podia ir em sua casa à noite...e foi. Dessa vez ela estava mais para Cinderela, linda na sua simplicidade, cabelos longos soltos, um vestidinho vermelho bem verão. Nas conversas, encontraram  muitas afinidades e o rapaz passou a frequentar a casa, pouco tempo depois, como seu  namorado.

Não me perguntem como, mas  no ano seguinte, Camila  decide fazer um curso de teatro, paralelo ao curso universitário. Foi aluna brilhante e ao estrear uma peça nos palcos, foi descoberta por olhos perscrutadores, de um diretor global. Para ter acesso ao elenco da casa e protagonizar uma novela, um pulo. Fernando fez teatro, mas não era deslumbrado. Formou-se em Direito e brigava por um lugar ao sol na carreira de advogado.

Aqui termino meu relato . Meu motivo é a pressa. O cabeleireiro e o maquiador acabam de chegar. Tenho um casamento hoje e serei madrinha, junto com minhas primas. Eu me chamo Mariana. Ah! Ia esquecendo de falar! Os noivos são Fernando e Camila...e, tenho certeza, esse príncipe nunca vai virar sapo, pois o amor que os une é muito sólido, baseado em muita compreensão, cumplicidade e companheirismo. Cada um torce e ajuda na carreira profissional do outro. Na carreira afetiva já são mais que vencedores.

 

 

 
 
Conto publicado no "Livro de Ouro do Conto Brasileiro" - Junho de 2016