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José Antonio Silva Santos
Rio de Janeiro / RJ

 

A libido nas Bodas de Prata

 
    Amar significa se entregar, mas também receber, quando ambos acontecem chamamos então de felicidade.
   Ana Lúcia e Cláudio estavam às vésperas de completarem cinco anos de convivência, ainda se via muita paixão entre eles. Ambos nutriam muita admiração por um casal de vizinhos que já passavam dos cinquenta anos de casamento.
- Tia Narcisa! Como faço para chegar as Bodas de Prata e ainda sentir desejo pelo meu marido? Perguntou Ana Lúcia, demonstrando todo carinho que tinha por aquela senhora.
- O principal minha querida, é existir respeito e tolerância, mas também não devem perder a alegria do amor, jamais deixem para resolver um problema no dia seguinte, e aprendam a dar valor às pequenas coisas. Respondeu Dona Narcisa, deixando escapar um suspiro de nostalgia.
- Mas a correria do dia a dia, não acaba nos tirando um pouco o desejo?
- Aí é que entra a questão de valorizar as pequenas coisas, a nossa mente precisa ser exercitada, quando não registramos os fatos marcantes, nossas lembranças vão diminuindo, e acabamos esquecendo de como é bom estarmos um nos braços do outro, isso é que diminui o desejo. A sábia senhora fez uma pausa, e nesse momento sua mente viajou no tempo, lembrou-se dos dias em que acordava espremida num sofá, apesar de ter uma cama enorme, ou quando fazia amor num lugar desconfortável e mesmo assim achava maravilhoso.
- Tia, tia! Ana Lúcia despertou a senhora que sonhava acordada.
    Ana Lúcia quis saber como é o sexo depois de tantos anos de casamento, a resposta lhe surpreendeu, disse que a melhor fase de sua vida sexual foi depois do amadurecimento, quando sua vida já estava bem organizada e os filhos já respondiam por si, isso os deixavam com maior possibilidade de dedicarem-se ao relacionamento, além de um conhecimento maior do parceiro e do próprio corpo. Disse-lhe que o sexo tem que continuar fazendo parte das suas prioridades, e que se quiser um relacionamento quente, deve esquentá-lo.
- Minha querida! Vou lhe contar alguns segredinhos de como lidar com os homens, e também como as mulheres costumam se comportar depois de anos de convivência. Dona Narcisa não tinha nenhuma fórmula mágica para um casamento feliz, apenas iria dividir com Ana Lúcia um pouco da sua experiência de vida, contando-lhe alguns segredinhos, a partir do seu ponto de vista:
   Os homens próximos dos cinquenta anos de idade, costumam olhar mais para a própria vida, os seus sentimentos ficam mais aflorados, inclusive o ciúme; eles costumam ficar mais próximos da família e mais amorosos com as esposas também; a qualidade do sexo ganha muito mais importância, ela dizia num tom de brincadeira, que era como se eles começassem uma corrida contra o tempo, o que descontraia e dava mais leveza à conversa.
   Como maridos eles esperam sempre mais de suas mulheres como amantes, normalmente não se dão contas da correria que é cuidar da casa e dos filhos, e em muitos casos, do emprego também.
- Porque alguns homens acabam traindo as esposas? Perguntou Ana Lúcia, demonstrando certa preocupação.
- Infelizmente existem aqueles que procuram na rua aquilo que sempre esteve ali ao seu alcance, - Dona Narcisa, pensativa, fez uma pequena pausa - mas como alguns não conseguem enxergar, se deixam levar por prazeres efêmeros, e nem sempre conseguem se corrigir a tempo. Provavelmente, cedo ou tarde, eles acabam pagando o preço por sua insensibilidade e pela incapacidade valorizar o que tem. E continua...
   Algumas mulheres após os quarenta anos de idade, costumam olhar menos para si mesma, se realizam através das vitórias dos filhos e dos bens conquistados, algumas até se esquecem de como é bom à realização dos sonhos pessoais; existem também aquelas que acabam se esquecendo dos encantos e sedução que uma mulher deve ter, e a primeira coisa que perde é a vaidade.
   Como esposa, elas esperam que os maridos sejam sempre compreensivos e companheiros, que reconheçam seus esforços como donas de casa, esposa e mãe; o sexo passa a ter menos importância nas suas vidas, com isso, seus companheiros podem ser vistos apenas como seus melhores amigos; há quem fuja dos assédios deles, mas as mesmas reclamam quando eles não as procuram mais na cama; poucas vezes percebem quando o casamento necessita de sua atenção como mulher, quando percebem, muitas prefere achar que os homens são exagerados nas suas reclamações, e nada fazem; o pior são aquelas que acreditam que controlar os passos do marido é suficiente para manter o casamento.
- Para a senhora foi fácil manter a chama acessa no seu casamento? Perguntou Ana Lúcia, um tanto eufórica e ansiosa pela resposta.
- Viver a dois nunca é fácil minha querida, são duas cabeças que pensam e agem de forma diferente, mas que buscam e sentem algo em comum, aceitar isso facilita muito.
- Tudo na vida precisa ser cuidado, com o amor não é diferente, se não cuidar ele simplesmente acaba, e sem nenhum aviso prévio, junto com ele vai-se o desejo. Pode ser que cedo ou tarde, se acabe pagando o preço pela negligência de não cultivar o amor, e pela incapacidade de manter-se desejável.
- Os casais que se amam sempre terão a oportunidade de reverter qualquer adversidade dentro do casamento, basta agir a partir da necessidade de conquistar o parceiro todos os dias. O sexo é a maior forma de intimidade entre duas pessoas, e a intimidade é a melhor maneira de demonstrar seus sentimentos. O amor pode ser demonstrado de varias maneiras, mas a paixão é a mais prazerosa de todas.
   A libido de um casal ao completar suas Bodas de Prata, depende muito de como o casal mantiver sua vida sexual ao longo dos anos. Dona Narcisa realmente não deixou nenhuma fórmula secreta de felicidade para Ana Lúcia e Cláudio, mas deixou a dica de que depende do esforço de cada um para ser feliz. O sexo é o prazer da carne, o desejo é a manifestação da carne motivada pela paixão, e o resultado de tudo isso, é um amor duradouro, muito quente e bem animado também. E onde está escrito que a paixão tem que acabar?

 

   
Conto publicado no livro "Seleta de Contos de Grandes Autores Brasileiros"- Edição Especial - Julho de 2015