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Francisco das Chagas Dias
São Luís / MA

 

Uma dúvida para ter certeza

 
Ali estava Narinha perdida entre seus pensamentos mais profundos e íntimos. Ia retornando ao dia em que tudo aconteceu. As lembranças vêm nitidamente a sua cabeça. Ela estava em casa tranquilamente assistindo tevê. O telefone toca e ela corre para atender. Era sua futura sogra avisando que o filho havia se acidentado. Narinha fica desesperada e pergunta logo como ele está.
- Ainda não sei! Estou aqui no hospital aguardando o médico.
- Eu estou indo pra aí agora! - Ela fala já chorando.
Narinha sai de casa correndo e pega o primeiro táxi que passa e vai para o hospital a toda velocidade. Lá chegando ela se dirige a recepção e pergunta onde é a sala de espera. Logo que vê dona Lucrécia, as duas se abraçam fortemente. Elas sentam e dona Lucrécia lhe conta como tudo aconteceu. Para passar o tempo, dona Lucrécia acendia um cigarro atrás do outro, enquanto Narinha folheava todas as revistas de uma mesinha ao lado.
Finalmente o médico aparece e comunica às duas que Paulo Roberto está bem, mas...
- Mas o quê? Pergunta dona Lucrécia aflita e alterando a voz.
- Não nos esconda nada, por favor, pede Narinha, controlando sua emoção.
- Eu lamento, mas o rapaz jamais poderá andar novamente.
O choque é demais para dona Lucrécia que desmaia. Já Narinha desesperada com aquela notícia sai correndo do hospital. Ela retorna para casa e os dias se passam. Agora fazia exatamente duas semanas que a tragédia acontecera e Narinha se via no dilema de continuar ao lado de um deficiente físico e prosseguir com os planos de casamento e uma vida a dois.
Paulo Roberto era dotado de um belo corpo e isso era o seu principal charme, também fora a primeira coisa que a atraíra quando o conhecera. E o pior era que ele era professor de educação física e agora como se sustentaria? Eles se casariam dentro de um mês e o que fazer, perguntava-se ela repetidas vezes. Os pensamentos de Narinha são interrompidos por alguém batendo a porta raivosamente. Ao abrir a porta ela dá de cara com a mãe de Paulo Roberto que aparentava está transtornada e fora de si.
- Dona Lucrécia!?
- Sim, sou eu Cinara, posso entrar?
- Claro, entre por favor! Pela fisionomia de dona Lucrécia, Narinha percebe que a conversa será desagradável.
- Eu vim pedir a você que procure Paulo Roberto. Ele está desesperado e eu não sei mais o que falar, que desculpa inventar para justificar sua ausência.
- Eu não posso! Exclama ela com a voz titubeante.
- Não pode!? E onde está o amor imenso que você dizia tanto sentir por ele? Indaga a mulher perdendo o controle e alterando a voz.
- Eu não posso e não vou me sacrificar casando com um deficiente, retruca Narinha num impulso.
Aquilo é demais para dona Lucrécia que dá uma tapa em Narinha fazendo-a cair no sofá.
- Sua nojenta! Eu sabia desde o início que você não prestava mesmo. Não foi à toa aquela sua atitude de ficar durante seis meses namorando ao mesmo tempo com meu filho e o melhor amigo dele. Por isso eu sempre fui contra esse namoro, esse noivado e esse casamento e agora percebo que eu tinha razão em fazer isso. Coração de mãe mesmo nunca se engana. Com essas palavras dona Lucrécia se retira batendo a porta com força.
Narinha se levanta e vai para o quarto chorando sem entender por que fizera aquilo. Por que dissera àquelas palavras que contradiziam seu coração, seus sentimentos e suas emoções. Ela amava Paulo Roberto, só não suportava a ideia de passar o resto da vida ao lado de um homem que não poderia andar. Narinha sente um aperto no coração de repente e pressente que algo estava acontecendo com Paulo Roberto. Nervosa ela se dirige para o hospital descontrolada e chorando. Na recepção ela pergunta o número do quarto. Emocionada ela percorre os corredores e já na porta ela bate cautelosamente e uma voz a manda entrar. Narinha entra vagarosamente e encontra uma enfermeira ao lado de Paulo Roberto.
- O que aconteceu com ele? Pergunta Narinha incontinenti.
- Recusava-se a comer e estava muito agitado por isso fui obrigada a lhe aplicar um sedativo. E você quem é?
- A noiva dele! Exclama ela sorrindo.
- Então só pode ser a Narinha!
- Sim sou eu mesma, como sabe meu nome!?
- Ele não fala em outra pessoa. E diz que só voltará a comer quando você viesse vê-lo. Você é uma pessoa de sorte por ter alguém que te ama dessa forma tão intensa e sincera.
- Muito obrigada por me dizer isso moça, obrigada. - ela agradece dando um abraço na enfermeira que logo se retira. Narinha então se senta na beirada da cama e beija Paulo Roberto nos lábios. Ela começa a passar a mão nos seus cabelos e as horas vão passando. Paulo Roberto acorda e ao abrir os olhos ver Narinha dormindo ao seu lado.
- Nara!? Fala ele demonstrando uma felicidade do tamanho do mundo que era perceptível no brilho dos seus olhos que pareciam placas de neon.
- Oh, querido eu te amo tanto! Desculpa...
- Por que você não veio me ver antes?
- Eu estava com dúvida se te amava, mas agora percebi que fui uma tola e que minha vida sem você não tem sentido. Você me perdoa?
- É claro que te perdoo e compreendo a tua atitude. Chega pertinho de mim e me dá um beijo. Eu estou com tanta saudade que parece que vou explodir.
Eles se beijam e Narinha sente que tinha acontecido era tão pequenino e insignificante perto do amor que sentia por Paulo Roberto e que juntos superariam todos os problemas. Então ela desperta das lembranças que se aglutinavam em sua cabeça de repente se sente segura de si e do que sente. E constata que a dúvida de agora servira apenas para confirmar a certeza de antes e de sempre: ela o amava muito, isso era o suficiente e nada mais importava. E através de uma dúvida veio a certeza que sua felicidade estava ali deitada naquela cama e sorrindo para ela como uma criança feliz simplesmente por tê-la ao seu lado. 

 

   
Conto publicado no livro "Seleta de Contos de Grandes Autores Brasileiros"- Edição Especial - Julho de 2015