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Neiva Terezinha Paludo Chemin
Pato Branco / PR

O aventureiro Caetano

 
Um jovem árabe e uma egípcia, com o despertar de sentimentos sonhadores e volúpia explosiva da juventude, uniram-se por amor.
Do Egito migraram para o Sul da Itália, na pequena Cosenza. E ali começaram a viver seus sonhos.
Com muita dificuldade construíram uma casa, bem pequena. Mas, ao longo do tempo, refizeram a morada: dois pisos, paredes de alvenaria com cinquenta centímetros de grossura, bem resistentes. Tal foi a qualidade da obra que ainda hoje existe e nela moram alguns descendentes.
Vidas floresceram... com o nascimento dos filhos.
Caetano era um deles, o mais curioso e determinado. Quando completou quinze anos, resolveu buscar outros caminhos: trabalho e estudo. Assim seguiu para não tão longe dali. Instalou-se na cidade portuária de Nápoles.
Fazia serviços diversos como consertar calçados e, nas horas vagas, à noite, servia como garçom num bar à beira do cais, ao som de belíssimas cantorias como: Santa LuciaTorna Surriento... e muitas outras. Nesse bar, os homens cantavam com entusiasmo canções de amor para a mulher napolitana.
Caetano sempre falava:
- Sou enérgico, por estar na terra bruciata! Terra quente!
Dali mirava o Vesúvio que ao longe fumegava.
Um dia voltou para a casa dos pais em Cosenza. Chegando, abraçou a mãe. Foi ao quarto, arrumou alguns pertences, incluindo uma gaita e um guarda-chuva. Voltou à sala, olhou nos olhos da mãe e falou:
Mama... Vou girar o mundo.
E assim seguiu seu destino.
Em Argélia, na África, ficou um bom tempo.
Depois desse período, seguiu para o porto de Marselha, na França. Trabalhou dois anos nesse lugar.
Seguindo mais uma etapa de sua vida, chegou ao Brasil. Estabeleceu-se no Rio Grande do Sul.
Onde parava, consertava calçados. Até num circo ele trabalhou para sobreviver.
Tinha ele já algumas amizades. Não conhecia os quitutes da região. Uma noite, um amigo convidou-o para uma janta em sua casa.
- Venha... Minha mulher vai fazer uma polenta.
Como Caetano não conhecia esse alimento, pensou: Hum... Deve ser um bom petisco!
Que decepção! Não gostou daquele grande bolo amarelo e sem gosto.
Girou... Girou... Trabalhou muito e casou. Teve filhos, mas logo ficou viúvo. Que amargor! Novamente sozinho e com dobrada responsabilidade.
E o tempo passou... Passou...
Em uma cidadezinha do interior, chamada Protásio Alves, montou com sucesso uma loja de tecidos e armarinhos.
Sozinho, levava a vida mais ou menos agitada.
A casa era enorme. A loja no térreo e os quartos no sótão. Cozinha separada, bem grande, passando por um pequeno corredor aberto. Uma extensa área de terra para cultivar árvores frutíferas e parreiral.
No passar do tempo, um dia chega para fazer compras, uma senhora morena, elegante, com sua filha Rosa: muito bonita.
Ele se encantou com a moça que também havia ficado viúva muito jovem.
Assim que fizeram as compras, Caetano deu de presente para a jovem Rosa um par de brincos.
Não demorou muito tempo, casaram.
No jardim dessa união floresceram oito Rosas e cinco Narcisos. O elo do casal era uma comemoração constante em cada refeição. Mesa comprida... Pai na ponta da mesa. Logo se seguiam a mãe e todos os filhos. Muita massa e o sagrado copo de vinho brindado com muita alegria e satisfação.
Uma das flores desse jardim, Antonieta, no dia vinte e cinco de dois mil e quinze completou cem anos de vida, na cidade de Nova Prata, no Rio Grande do Sul.
Uma época tumultuada naquele tempo de revolução. Misturavam-se todos os tipos de gente: a bandidagem estava no meio. Aproveitando-se das ocasiões, esses maus elementos formavam grupos armados e assaltavam os estabelecimentos em geral.
Um dia, o grupo anunciou que o próximo estabelecimento a ser saqueado seria o de Caetano.
Foi assim que o valente e corajoso dono da loja reuniu os amigos e companheiros. Armaram-se até os dentes para enfrentar esses ladrões bagunceiros. Grande expectativa! Foram esperar os bandidos na entrada da cidade, e surpreendê-los numa emboscada.
Protegidos atrás da moita esperaram em silêncio... De repente, o tropel apressado de cavalos... Era o bando armado que ia assaltar o comércio.
Ao apontar no morro: foi chumbo para todo o lado.
Em questão de minutos, Caetano e seus companheiros espantaram o bando de saqueadores arruaceiros.
E assim eles não mais perturbaram a região. O prejuízo foi um chumbo no nariz do corajoso Caetano.
O tempo foi passando...
Os filhos cresceram... Cada um seguiu o seu caminho.
O ninho abençoado dos pais ficou vazio. Mas muita calmaria em seus corações, por terem encaminhado os filhos na estrada do bem. Da honestidade, lealdade... Serem justos com os outros.
Caetano, em Protásio Alves, pérola da Serra Gaúcha, fez história. Na tranquila cidadezinha plantou suas raízes. E a cidade o homenageou... Na Casa da Cultura, na Igreja Matriz, no Colégio... E, na avenida principal que tem o nome desse valente e correto Caetano Peluso.

 

   
Conto publicado no livro "Seleta de Contos de Grandes Autores Brasileiros"- Edição Especial - Julho de 2015