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Iane Giselda de Cougo Souto
Florianópolis / SC

 

O alfaiate

 
Eles moravam no Rio, bem longe do centro. Pegavam o trem todo o dia, era mais rápido que o ônibus. Ele trabalhava, era alfaiate numa loja do centro da cidade.  Arrumava as bainhas das calças, os vestidos, enfim costurava.
Ela vendia doces que ela mesma fazia para opadarias, lanchonetes, supermercados e quiosques.
Seu Januário levantava cedo todos os dias e ajudava Sueli a preparar as marmitas para o longo dia de jornada de trabalho. Não tinham filhos, não fazia nem um ano que estavam casados.
Aos finais de semana não trabalhavam fora, arrumavam a casa, o jardim, a horta, cuidavam das galinhas. De noite iam visitar os parentes ou então recebiam visitas da igreja, o padre vinha jantar, e recebiam uma benção. A igreja ficava na mesma rua. Domingo iam à missa pela manhã, participavam dos almoços e dos bingos para arrecadar ajuda aos necessitados.
Januário atendia bem os clientes, sempre com muita paciência. Tinha dias que ficava muito ocupado, trabalhava sem parar fazendo bainhas e arremates nas costuras.
Certo dia chegou uma senhora na loja e comprou duas calças para o marido e queria fazer uma surpresa, trouxe as medidas e Januário caprichou na arrumação. Era um corre-corre na loja, entra freguês e sai. Ele não sabia quem atender primeiro, era muita gente no final do ano. Todo mundo queria levar um presente.
Às vezes ia almoçar rapidinho em um intervalo, mas não reclamava, gostava de ver as pessoas bem-arrumadas e bem chiques. O que ele mais gostava era de fazer bainhas em roupas para casamento, ficava radiante.
Algumas vezes recebia um convite para ir ao casamento e ia bem feliz ,satisfeito de saber que ele arrumara o terno. Ele também produzia roupas novas além de fazer consertos. Esporadicamente recebia encomendas em casa e passava a noite costurando.
Um dia confeccionou um vestido de noiva e fora convidado a ser padrinho. E foi bem satisfeito sabendo que fizera a alegria da noiva. A noiva entrara de vestido branco com rendas, bem comprido, com um laço na cintura. O noivo espera no altar encantado. Todos admiraram o vestido e ficaram curiosos para saber quem costurara para a noiva ficar tão formosa. Depois da cerimônia no altar só se comentava a beleza do vestido. Vários foram os rumores até que descobriram que o padrinho era o que confeccionara o belo vestido.
A festa estava bem bonita e quem fizera os docinhos para festa fora Sueli.
Sua esposa continuara fazendo doces e vendendo bastante, agora também fazia brigadeiros e outros doces.
...
Januário resolveu sair da loja, estava cansado de tantos anos na correria. Resolvera abrir seus serviços de alfaiate por conta própria no bairro onde morava. Gostara da nova vida, novas encomendas e fora ficando famoso.
A esposa recebera ajuda dele e aumentara a produção. Fizera todo o tipo de doces: quindim, doce de leite, fios de ovos, rapadura de abóbora e doce de amendoim. Agora também atendia festas de casamento, aniversários e formaturas.
Ele costurava por encomendas  para mulheres. A loja cresceu e ele começou a vender para boutiques famosas no Rio de Janeiro. Participara de um desfile com sua marca já famosa. Começara a vender para todo o Brasil, mas jamais esquecera o vestido de noiva. 
Januário e Sueli foram bem felizes.

 

   
Conto publicado no livro "Seleta de Contos de Grandes Autores Brasileiros"- Edição Especial - Julho de 2015