Maria
Rita de Miranda
São Sebastião do
Paraíso / MG
Final feliz
Morava na periferia da cidade metrópole,
uma família típica do lugar. Edna, dona de personalidade
forte, fazia o papel de pai e mãe de quatro filhos, três
meninos e uma menina, a mais nova. Fora abandonada pelo marido,
durante sua última gravidez, e dele nunca mais teve notícias.
Arregaçou as mangas e foi trabalhar faxinando várias
casas luxuosas. Sua mãe ajudava cuidando da caçula
Bruna e encaminhando Pedro, Paulo e Tiago para a escola do bairro.
Nem nos finais de semana Edna descansava. Arrumava alguns bicos
e vários sábados e domingos, ficava algumas horas
fora de casa, sempre pensando que um dinheiro extra fazia a diferença.
Nesta pequena economia de finais de semana, ela não mexia.
Guardava tudo e uma vez por mês pegava as crianças
e felizes iam para um domingo atípico. Brincavam no parque,
saboreavam pipocas, algodão doce, sorvetes. Até
o almoço era feito numa cantina que cobrava pouco por uma
refeição. Só voltavam para casa à
tarde. Estavam cansados, mas tão felizes que todos os outros
dias que se seguiam poderiam ser de árduo trabalho. Esperariam,
sem reclamar, por outro final de semana igual, no próximo
mês.
Esta era a rotina da família de Edna. O tempo foi passando
com a matriarca incansável, os filhos crescendo bonitos
e saudáveis, a vida se acomodando de uma maneira favorável
para a mãe batalhadora.
Num destes domingos em que Edna saía com as crianças,
resolveu ir à Igreja para agradecer a Deus a graça
de mantê-los unidos e em paz. Ela se esmerou ao arrumar
as crianças e a si mesma. Permitiu-se uma leve maquiagem
e prendeu os cabelos para ressaltar o rosto. Saíram contentes.
Viram que era dia de festa na Igreja, pois esta estava superlotada,
sendo até difícil de locomover, com tanto entra
e sai de fiéis.
Edna segurou nas mãos de dois filhos que por sua vez, seguraram
nas mãos dos outros irmãos formando um cordão.
Entraram na Igreja. O empurra, empurra, começou. A mulher
rezou apressadamente e resolveu sair dali, preocupada com as crianças.
Quando chegaram à porta da igreja, num desespero total,
notou que a filha caçula se desprendera da mão do
irmão. Colocou os três meninos num canto, recomendando
que não saíssem dali por nada e vagou à procura
de Bruna. Inutilmente. Perguntou a todos pela menina, chorou,
viu-se perdida. Voltou para as outras crianças que também
estavam apavoradas. Levou-as para casa e uma busca interminável
começou. Edna andou o resto do dia parando a todos para
indagar sobre a filha. Nada.
Na manhã seguinte fez a denúncia na delegacia. Preparou
uns cartazes precários com a foto da menina e os pregou
por toda parte que passava.
Nos dias que se seguiram, Edna viveu como uma autômata.
Parou de trabalhar e se dedicou inteiramente na tarefa de trazer
a filha de volta para casa. Maldisse o dia em que foi à
Igreja, blasfemou, rezou, tudo ao mesmo tempo. Achou-se enlouquecida.
Duas semanas se arrastaram sem notícias. Até que
um dia, um conhecido de Edna avistou uma criança nos braços
de um andarilho e a reconheceu. Não teve dúvidas.
Ligou para a polícia que imediatamente apareceu no local.
O andarilho se assustou, deixou a menina no chão e fugiu.
Foi pego no outro dia. Ao ser interrogado declarou que achou a
criança perdida e a tomou para si.
Edna foi chamada, pela polícia, para reconhecer a filha.
Não coube em si de contente ao ver Bruna. A menina muito
assustada agarrou-se à mãe e aos irmãos,
parecendo não querer se desprender jamais. Estava novamente,
a família reunida. Edna abraçou e agradeceu o rapaz
que lhe deu a chance de reencontrar a filha.
Já passado algum tempo, Edna ainda se emociona quando se
lembra do fato: - multidão e criança não
combinam, alerta ela para si mesma. Só eu sei o que se
passa na cabeça e no coração das mães
que têm seus filhos perdidos. Rezo todos os dias para que
elas desfrutem de um final feliz como o meu.
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